revistaparametro.wordpress.com
Ao tratar sobre
a tradição clássica Marrou toma como modelos dois personagens que se
destacaram: Platão, representando os filósofos e Isócrates representando os
Sofistas. O próprio autor adverte que estes representantes não são uma espécie
de modelos que teriam sido seguidos por todos os outros membros de suas
respectivas escolas. Platão não era unânime entre os filósofos da época e nem
Isócrates era unânime entre os sofistas.
Os socráticos menores
Muitos dos
socráticos menores acabam por assumirem práticas dos Sofistas:
Excetuando Fédon de Elis, que é mais idoso, mais
“arcaico” (sua escola é ainda uma escola filosófica do tipo jônico). Todos êles
são, como os Sofistas, educadores profissionais, certamente não mais
itinerantes (suas escolas instalam-se em cidades das quais tomam os nomes:
Mégara, Erétria), mas sempre dispostos a pronunciar conferências de propaganda
com fito de granjear freguesia [...] (104-5)
Porém, como
podemos ver, essa prática parecida se dá no âmbito profissional, mas o objetivo
por detrás da educação serão diferentes: “Mas o ideal em função do qual
informam os seus discípulos é, como em Platão, e, evidentemente, em Sócrates,
um ideal de Sabedoria [...], mais do que eficiência prática.” (p. 105) Haverá
uma disputa “encarniçada” com os Sofistas.
Carreira e ideal político de Platão
Como estratégia
para a execução de seu ideal político Platão funda a Academia, esta vem a
render bons frutos:
Vale-se, para isto, da cooperação de seus discípulos,
uma vez que a Academia não é apenas uma escola de filosofia, mas também de
ciências políticas, uma fonte de conselheiros e legisladores à disposição dos
soberanos ou das repúblicas. Plutarco conservou-nos a lista dos estadistas que Platão
disseminou pelo mundo helênico: Dion de Siracusa, Píton de Heráclides,
libertadores da Trácia; Cábrias e Fócion, os grandes estrategistas atenienses;
Aristônimo, legislador de Megalópolis de Arcádia, Fórmion de Eléia, Medenemo de
Pirra, Eudóxio de Cnidos, Aristóteles de Estagira; e, finalmente, Xenócrates,
que foi conselheiro de Alexandre... [...] (p. 108)
A procura da verdade
A obra pedagógica de Platão ultrapassou de muito, em
importância histórica, o papel propriamente político que êle lhe havia designado.
Opondo-se ao pragmatismo dos Sofistas, demasiado apegados a eficácia imediata,
Platão edifica todo o seu sistema educacional sôbre a noção fundamental da
verdade, sôbre a conquista da verdade pela ciência racional. (p. 110)
Organização da Academia
É-nos possível
verificar como se dá a prática pedagógica de Platão:
Tudo o que os Diálogos
nos permitem entrever mostra-nos Platão como um partidário dos métodos ativos:
seu método dialético é bem o contrário de uma doutrinação passiva. Longe de
inculcar em seus discípulos o resultado, já elaborado, de seu próprio esforço,
ao Sócrates pintado por Platão apraz, ao contrário, fazê-los trabalhar,
fazê-los descobrir por si mesmos, de início, dificilmente, e depois, à custa de
aprofundamento progressivo, o meio de superá-la. A Academia era, pois, ao mesmo
tempo, uma Escola de Altos Estudos e um instituto de educação. (112)
E a organização
dessa instituição:
Começamos agora a visualizar, de maneira bastante
nítida, os quadros de sua organização; a Academia tem uma sólida estrutura
institucional: ela não se apresenta como uma empresa comercial, mas na forma de
uma confraria, de uma seita, cujos membros se acham estreitamente unidos pela
amizade (sempre êste vínculo afetivo, senão passional, entre mestre e alunos).
Do ponto de vista legal, ela é, como uma seita pitagórica, uma associação
religiosa [...], uma confraria voltada ao culto das Musas e, após a morte do
mestre, ao culto de Platão heroificado [...] (p. 112-113)
Utopia e antecipações
Platão tem algumas
utopias que acabam por se concretizando no futuro, o que faz dessas utopias
antecipações do que viria a acontecer:
Antes de tudo, a exigência fundamental: a educação
deve – diz êle – tornar-se coisa pública; os mestres serão escolhidos pela
cidade, controlados por magistrados especiais... Em sua época, êste anseio não
era realizado quase senão nas cidades aristocráticas, como em Esparta; por tôda
parte, alhures, a educação era livre e privada. Ora, veremos que a Grécia
helenística adotaria, muito genéricamente, um regime bastante análogo àqueles
que recomendam as Leis. Do mesmo modo
igualmente rigoroso que êle preceitua, entre a educação dos rapazes e das môças
(educação paralela, mas não co-educação: a partir dos seis anos, os dois sexos
têm mestres e classes distintos), assume, nas tintas de sua pena, o exagero de
um paradoxo: ela apenas reflete um fato real, qual seja a emancipação das
mulheres na sociedade do quarto século, e, também nisto, antecipa as
realizações da época helenística. (p. 114-115)
Outros aspectos a considerar
Platão defende a
educação elementar tradicional, para ele esta educação não leva a verdade, mas
abre caminho para ela à medida que prepara o indivíduo para os estudos
superiores.
Ele também
surpreende por incluir nos estudos de sua Academia um espaço importante para as
matemáticas, inclusive ele acredita que através dessa ciência é que se deveriam
realizar seleções para futuros profissionais de diversas áreas. Outro ponto
importante, que não descreveremos aqui, é o ciclo de estudos filosóficos
constituídos por ele e aplicados na Academia.
Este capitulo
não nos dá muitas pistas em relação às condições de trabalho do educador
Platão: como se dava a sustentabilidade da Academia? Sou levado a crer que os
discípulos contribuíam financeiramente para a manutenção desta e que daí saia o
sustento de Platão.
O que há de mais
relevante no que diz respeito ao trabalho docente é a compreensão que o
filósofo tem a respeito da necessidade da educação ser pública e dos professores
serem funcionários públicos.
MORROU, Henri-Irénée. Os mestres
da tradição clássica: I. Platão. In: ___. História
da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1975. p. 103-129.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você recebeu um comentário.