http://scienceblogs.com.br/hypercubic/2011/08/o-misterio-da-cegueira-homerica/
Um dos valores
da obra homérica está no esclarecimento dos princípios que esta obra “guarda”,
que serão importantíssimos para a posteridade. As obras homéricas são Ilíada e Odisséia.
Há em Homero a
figura do educador: “A figura típica de educador é a de Quirão, ‘o
sapientíssimo centauro’; grande número de lendas parece ter-se apossado de seu
nome: ele educou não só Aquiles, mas ainda muitos outros heróis” [...] (p. 23).
É-nos possível
verificar como Homero concebe como se deve dar a educação:
Faz-lhes
propor, por seus conselheiros, grandes exemplos tirados à gesta legendária,
exemplos que devem despertar neles o instinto agonístico, o desejo de
rivalizar. Assim Fênix propõe a Aquiles, ao pregar-lhe a conciliação, o exemplo
de Meleagro: "É exatamente isto o que nos ensinam os feitos dos antigos
heróis... Recordo-me ainda desta gesta [...], uma história bem antiga..."
(p. 31)
Também podemos
verificar como esses educadores procedem a sua prática educativa:
Para ser ouvido, Fênix julga que deve recordar a
Aquiles toda a sua história, num longo discurso cuja prolixidade um tanto senil
é bastante instrutiva para nós: Fênix, fugindo à cólera de seu pai (estavam em
conflito por causa de uma bela cativa), veio refugiar-se na corte de Peleu, que
lhe outorgou um feudo nos Dólcpes. É a este vassalo querido que o rei vai
confiar a educação de seu filho [...]: é-lhe entregue bem criança; vemos Fênix
tomar Aquiles sobre os joelhos, cortar-lhe carne, fazê-Io comer, beber: ‘E
quantas vezes me molhaste, de vinho, a túnica, no penoso tempo da infância!’
(p. 24).
O trecho anterior nos faz
notar que os educadores narrados por Homero começavam a educar seus pupilos
desde a mais tenra idade. Também podemos verificar que esse processo se estende
até a vida adulta:
‘Fui eu
quem fez de ti o que tu és!’, declara com orgulho o velho preceptor, pois que
sua assistência não se restringira à primeira infância: ainda a ele é confiado
Aquiles por ocasião de sua partida para a guerra de Tróia, a fim de que venha
em socorro de sua inexperiência. (p. 24)
Num segundo trecho
Nada mais
notável que a dupla missão de que Peleu o investira nessa ocasião: ‘Não
passavas de uma criança e nada sabias ainda da guerra, que a ninguém poupa, nem
das assembléias onde os homens se fazem ilustres. E foi para isso que ele me
havia enviado: para ensinar-te a ser, ao mesmo tempo, um bom conselheiro, um
bom realizador de façanhas [...]’; fórmula em que se condensa o duplo ideal do
perfeito cavalheiro: orador e guerreiro, capaz de prestar a seu suzerano tanto
serviço judiciário como serviço de campanha. A Odisséia mostra-nos, da
mesma maneira, Atena instruindo Telêmaco sob a inspiração dos exemplos de
Mentes ou de Mentor. (p. 24)
A partir desses relatos podemos
identificar o educador, em Homero, como sendo um preceptor, isto é, uma pessoa
experiente ensinando um jovem nobre a ser “nobre”, e para eles ser nobre é assumir
os valores heróicos:
Encontramos assim, na origem da civilização grega, um tipo de educação
nitidamente definido: aquele que o jovem nobre recebia dos conselhos e dos
exemplos de um mais velho a quem tinha sido confiado, em vista de sua formação.
(p. 24-25)
Esse herói tem seus
princípios e ações regidas por uma ética cavalheiresca. Essa sociedade
cavalheiresca é, antes de tudo, uma sociedade guerreira, portanto a educação
tem que se preocupar com a ética e, também, com a técnica. Técnica esta envolve
o manejo das armas, esportes e jogos, artes musicais e oratória. O mestre,
portanto, tem que atender essas exigências.
Os feitos históricos
tinham um papel importantíssimo como podemos verificar:
Da mesma
maneira Atena, querendo despertar afinal a vocação heróica nesse meninão
irresoluto que é Telêmaco, opõe-lhe o exemplo de decisão viril de Oréstes:
‘Deixa os brinquedos de criança, que não são mais para a tua idade. Vê o renome
que entre os humanos conquistou o divino Orestes, quando matou o assassino de
seu pai, esse astucioso Egisto!’ O mesmo exemplo aparece ainda três vezes.
(p. 32)
Assim Marrou define
o segredo da educação homérica: “o
exemplo heróico.” (p. 32)
Esses princípios
nortearam a Grécia não apenas no período arcaico, como também, teve forte
influência no período clássico. “O poeta, dirá Platão, ‘cobre de glória
miríades de feitos dos antigos e assim faz a educação da posteridade’” [...]
(p. 31).
MORROU, Henri-Irénée. A educação homérica. In: ___. História da educação na antiguidade. São
Paulo: EPU, 1975. p. 17-32.
Boa noite, gostaria de saber: quem publicou o arquivo?
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