http://classicalstudiorum.blogspot.com.br/2012/03/o-que-e-educacao-classica.html
O
autor começa tratando do que ele chama de “as duas tradições arcaicas”, isto é,
a educação homérica e a educação hisiódica. Para Manacorda o período retratado
por Homero e o período posterior correspondem a uma só época, o Período
Arcaico; diferenciando-se de Marrou que os distingue como Período Homérico e
Período Arcaico.
Segundo
o texto há semelhanças entre a educação arcaica e a egípcia. A educação em
Homero é realizada por um nobre que por alguma circunstância da vida foi levado
a refugiar-se em terras que não as suas e que foi “convidado” por algum nobre
do local a realizar a educação do filho deste nobre. Assim ele apresenta o
educador homérico: “Estes educadores arcaicos têm em comum algo de estranho:
são pessoas que mataram ou tentaram matar e, por isso, tiveram que fugir de suas
terras e procurar hospitalidade em outro lugar.” (p. 42) Em outro trecho o
autor comenta esse fato: “De modo paradoxal, exatamente esses feitos pouco
promissores lhes abre caminho para a missão de educador.” (p. 43-4)
A
educação hesiódica segue caminhos parecidos, o educador em questão é um nobre
que educa seu pupilo. Manacorda não faz nenhuma referência a prática da
pederastia.
Em
relação ao Período Clássico o autor faz referência aos professores de
ginástica, música e “alfabetizadores”; também aos pedagogos e magistrados
responsáveis pela educação naquelas cidades-Estado que, posteriormente, irão
assumir a educação como tarefa pública, sem apresentar nenhuma novidade em
relação ao que Marrou apresenta.
A
partir do século VI a.C. surge a “escola das letras” onde se ensina a ler e
escrever.
Os docentes: grammatistés, grammaticós, rhétor
Neste texto pode-se verificar com maior
nitidez as diferenças entre o “mestre-escola” e o pedagogo:
Lydo já
se queixara porque o menino, em vez de chamá-lo pedagogo, o chamou pelo nome,
como se fosse um escravo comum. De fato, escravos estrangeiros, prisioneiros de
guerra, eram sempre os pedagogos em casa, como testemunham seus nomes (Lydo,
Davo, Siro, Trácio etc.); já os mestres de escola são gregos ou pessoas livres,
que exercem um ofício como outros. Se, no entanto, confrontarmos esta
comparação entre a velha educação e a nova com a de Aristófanes, de dois
séculos antes, poderemos usufruir das eternas saudades dos conservadores e
também constatar o quanto mudou a escola. Aristófanes nem falava das letras e
Menandro coloca em primeiro plano, ao lado da educação ginástica, a importância
até de uma única sílaba. Aqui parece que toda educação física se realiza fora
de casa, no ginásio, enquanto a educação literária, pelo menos a inicial, é
desenvolvida particularmente, com o pedagogo em casa. O menino freqüentará a
escola externa num segundo momento, e será a escola do grammatikós. (p. 61)
Como pode ser verificado no trecho
anterior o “mestre–escola” é o responsável pela alfabetização, este divide
espaço com educadores responsáveis pela ginástica e música. A novidade trazida
por este autor que há níveis distinto em que o “mestre-escola”: “Desta cena dos
Báquides de Menandro-Plauto resulta que a posição social do mestre
certamente não era de grande prestígio, embora seja necessária uma distinção
entre os diversos graus: o grammatistés, o grammatikós, o rhétor.” (p. 61)
Mas mesmo havendo níveis diferentes
ainda o mestre tem pouco prestigio:
Em geral,
o ofício de mestre era o ofício de quem caíra em desgraça (como no exemplo de
Dionísio de Siracusa) e nisto parece perpetuar-se o destino de Fênix e
Pátroclo. Mais exatamente: entre as téchnai, os ofícios ou profissões
"artesanais", esta téchne intelectual em geral não era
exercida por homens do démos, em cujas famílias o ofício passava de pai
para filho, mas por homens de classes cultas que por desgraça tiveram que
descer na escala social. O caso real de Dionísio de Siracusa, além do risco
corrido por Platão, feito escravo quando voltava da Sicília, confirmam isso.
Mas não faltam outros exemplos. (p. 61)
Ter sido um “mestre-escola” parece ser
uma marca a ser carregada pela vida inteira:
Demóstenes
(De Corona, 129 a 258) censurará repetida e malignamente a seu
rival Ésquines aquilo que o próprio Ésquines testemunha com amarga veemência (Contra
Ctesifonte), isto é, que o pai, em decorrência dos graves acontecimentos da
Guerra do Peloponeso, foi obrigado a servir como mestre na casa de Élpia, tendo
o filho como seu assistente. Do fragmento de uma comédia comprova-se também
qual o destino dos prisioneiros de guerra, inclusive de gregos entre gregos
(trata-se de prisioneiros atenienses): "Ou morreu ou ensina o bê-á-bá.
Daqueles que combateram com Nícia, na Sicília, alguns morreram, outros foram
feitos prisioneiros e ensinaram as letras aos filhos dos siracusanos" (Zenobius,
IV, 17) (p. 61-2)
Ser assalariado
era algo horrível para aquela sociedade, tanto que quando alguém ensinava
gratuitamente um familiar seu era algo visto com naturalidade, agora quando se
ensinava por dinheiro era vergonhoso.
O presente texto
reafirma a condição precária do “mestre-escola”.
MANACORDA, Macio
Alighiero. A educação na Grécia. In: ______. História da educação: da
antiguidade aos nossos dias. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1996. p. 41-72.
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