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O clero deixará a
função de ensino para um “profissional” especifico
Quanto
às escolas do clero secular, originariamente o mestre era o bispo (ou, nas paróquias,
o pároco), mas logo esta tarefa foi por Ees transferida para um scholasticus ou
magischola. Este foi um cargo cuja dignidade cresceu com o tempo, tanto que o
magischola acabou assumindo na Igreja funções mais elevadas, transmitindo,
através de uma espécie de investidura, a função de ensinar a um seu substituto,
o proscholus. (p. 142)
O “mercantilismo educacional” parecia ter desaparecido,
porém, ele volta a dar as caras na sociedade:
Foi,
de fato, um fenômeno característico desta época feudal a difusão do costume de
o magischola vender a autorização de ensinar, a licentia docendi, e,
conseqüentemente, o costume de cobrar o ensinamento dado aos alunos por parte
de quem tinha conseguido essa licença: dois casos, em certo sentido, de
"simonia". A ciência é dom de Deus, portanto, não pode ser vendida,
dirão insignes doutores e as bulas pontifícias repetirão: o saber, de fato,
embora fundado nas artes liberais, consistia na doutrina cristã e culminava na
teologia. Apesar disso, era vendido. Investiduras e simonias: esta é a escola
de uma sociedade e de uma Igreja feudais, ainda que a venda da ciência já
prenuncie o surgir de uma sociedade laica de tipo novo. (p. 142)
A Igreja se afirma de vez na condição de detentora dos
direitos sobre a educação:
A crise do império carolíngio
levara a uma nova situação: a fonte, agora imperial, do direito escolar passara
de fato à Igreja, como também passa para da o controle político, anteriormente
do império, sobre as escolas eclesiásticas. Além disso, a Igreja foi abrindo
suas escolas episcopais e paroquiais também aos leigos, dando-Ihes ao mesmo
tempo instrução religiosa e literária. Criou-se, em suma, um monopólio eclesiástico
da instrução que, apesar das reações por parte da autoridade política,
derrubou a situação que se criou no império carolíngio e provocaránovos
choques. Convém, portanto, seguir o esforço da Igreja para reorganizar suas
escolas e controlar as outras, seguindo- e inovando a tradição de Eugênio II e
de Leão IV, cujas disposições serão sempre retomadas e inscritas nos cânones
sagrados. (p. 143)
"a
ninguém, feitos os votos ou feita a profissão religiosa em qualquer mosteiro,
era permitido sair para ensinar ciências naturais ou leis mundanas" (G.M.,
l, 193-194). (p. 143)
Há uma crise entre a Igreja com a educação realizada pelos
sacerdotes e aqueles que vendiam o seu ensino
Em 1179, exatamente cem anos após Gregórlo VII, um outro papa,
Alexandre III, ao reafirmar novamente esta obrigação, inovava corajosamente as
decisões de Lotário e dos bispos franceses do século IX, impondo não somente
às igrejas como também aos mosteiros a obrigação de estender o ensino aos
leigos pobres. Além disso, ele denunciava severamente os casos de simonia
escolástica, isto é, a venda da licentia docendi, e os obstáculos contra quem,
munido da licença, quisesse livremente ensinar, e ordenava que o magischola
não se permitisse impedir nenhum clérigo capacitado de ensinar aos outros, pelo
menos fora dos muros da cidade, extra muros civitatis. São decisões bastante
significativas, qu!'" libertam os mestres de qualquer submissão feudal e
qualquer suborno simoníaco. Leiam-se textualmente as palavras do Concílio Lateranense,
convocado por Alexandre III em 1179:
"Cada Igreja Catedral crie um benefício para um mestre, que ensine
gratuitamente aos clérigos da mesma Igreja e aos demais pobres. . . A Igreja,
como piedosa mãe, tem a obrigação de prover os pobres, que não podem ter o
apoio dos pais, para que não sejam privados da oportunidade de ler e progredir
no estudo. .. .
Esta
escola seja também instituída nas demais igrejas e nos mosteiros. . .
Para
a licença de ensinar não se exigia nenhum pagamento; nem, sob o pretexto de
costume, alguém peça remuneração a quem está ensinando ou impeça ensinar a quem
está idôneo e devidamente licenciado. . .
Aquele que, de fato, pela avidez de seu espírito vende a licença, tenta
impedir o progresso da Igreja" (G.M., l, 70-74) (p. 142-143)
A Igreja fecha o cerco contra aqueles que após receberem
dela a autorização para ensinar passam a faze-lo por dinheiro
Trinta e seis
anos depois, em 1215, o novo Concílio Lateranense, convocado pelo papa
Inocêncio lU, confirma e precisa este compromisso: dispõe que a eleição do
magischola seja feita pelo bispo e seu cabido, confirma a obrigação de ensinar
gratuitamente, reafirma que as escolas devem surgir nas igrejas-catedrais e nas
demais igrejas e que devem estar abertas não somente aos "clérigos da
mesma 'igreja", mas também "aos alunos pobres", e especifica que
devem ser instruídos "na gramática e nas demais disciplinas".
Portanto, não é somente a doutrina religiosa que a Igreja pretende ministrar:
toda a instrução agora lhe diz respeito, superadas as dúvidas de consciência
sobre a origem pagã da instrução instrumental e rejeitadas as tentações da
"santa ignorância". Naturalmente, porém, o grande objetivo desta
cultura fundada nas artes liberais não é mais a eloqüência política e o
direito, mas a teologia. No mesmo concílio, de fato, decide-se que toda igreja
metropolitana tenha um ensino de teologia:
"Pelo
menos a igreja metropolitana tenha um teólogo que instrua os sacerdotes e os
outros nas sagradas escrituras e os eduque especialmente em tudo aquilo que é
necessário para a cura das almas" (G.M., l, 72). (p. 144)
Como podemos ver a Teologia e, por
conseqüência, os profissionais especializados nela ganham em importância, mas
se faz necessário algumas garantias:
Quatro
anos mais tarde, em 1219, Honório lU, ao evocar o rigoroso respeito às
decisões do seu antecessor sobre o ensino de teologia, ao mesmo tempo introduz
uma profunda inovação num ponto essencial, o da venalidade da ciência,
ordenando que aos mestres de teologia, não obstante qualquer outro costume ou
instituição contrário, seja concedido pelo bispo um ordenado, caso a renda de
seus benefícios seja insuficiente, e que lhes seja garantida esta renda durante
cinco anos, também no caso em que tenham deixado o ensino para se aperfeiçoarem
em seus estudos.
"Queremos e ordenamos que se observe rigorosamente quanto foi
estabelecido no Concílio geral sobre a nomeação dos mestres de teologia em cada
igreja metropolitana; além disso, estabelecemos, com base no conselho dos
bispos nossos irmãos. . ., que, podendo, pela raridade dos mestres, alguns
deles esquivar-se, os prelados e os cabidos das igrejas destinem ao estudo da
teologia alguns mais capazes de aprender, para que, uma vez instruídos,
resplandeçam na Igreja de Deus como uma luz do céu e possamos ter, em seguida,
abundância de doutores. . ." (G.M., l, 73-74). (p. 144-145)
E acrescenta:
"caso a renda de seus benefícios seja insuficiente, eles lhes
destinem um ordenado, e se forem estudar e ensinar teologia fora de suas
dioceses, continuem por cinco anos percebendo os proventos de seus benefícios,
não obstante qualquer outro costume ou disposição'" (ibidem). (p. 145)
Mas o autor não vê nessa iniciativa apenas uma preocupação
com a garantia e qualidade no ensino de teologia:
o que aconteceu para que o papado interviesse, contra seus próprios
costumes e disposições, encorajando clérigos e monges com ordenados e com
outras subvenções, que chamaríamos de bolsas de estudo, a serem usufruídos
longe da própria diocese? Após a luta contra o feudalismo, com suas
investiduras e sua simonia, estes parecem ser os sinais de uma outra luta para
o desenvolvimento burguês e mercantil de um sistema educativo que a Igreja,
aliada das comunas contra o império, conduz com maior ou menor consciência de
sua função histórica. (p. 145)
Isso pode ser explicado pelo
surgimento da economia mercantil das cidades e à sua organização em
comunas, um novo processo se introduz na instrução com o aparecimento dos
mestres livres que, sendo clérigos ou leigos, ensinam também aos leigos.
Munidos da licentia docendo concedida pelo magischola, ensinando fora das
escolas episcopais e freqüentemente, para evitar concorrência, fora dos muros
da cidade (extra muros civitatis), eles satisfazem as exigências culturais das
novas classes sociais. A Itália parece ser o centro deste desenvolvimento. (p.
145)
O monopólio da Igreja começa a ser ameaçado seriamente
Estes mestres livres ensinavam especialmente as artes liberais do
trívio e do quadrívio; mas aqui e ali aparecem também escolas livres de outras
disciplinas. É provável que justamente destes mestres livres, que atuavam junto
às escolas episcop!iis e sempre sob a tutela jurídica da Igreja (e também do
império), tenham nascido em seguida as universidades. Em Salerno, já antes do
ano 1000, existia uma tradição de prática médica que paulatinamente assumiu o
caráter de uma verdadeira escola teórica e que, dois séculos mais tarde, foi
reconhecida como Studium generale (isto é, cujos títulos eram reconhecidos em
qualquer lugar: em suma, uma universidade). E, fato determinante, em Bolonha,
na se
gunda metade do século Xl, teve inicio o ensino do dIreIto romano por
obra de Pepone, seguido no começo do século seguinte por Irnério, pelo aual se
costuma comecar a história das universidades medievais. (p. 145-146)
As relações entre mestres e estudantes também
mudam:
Nas
relações com seus mestres, os estudantes tinham fortes poderes: de fato, eram
os próprios estudantes, através de seus representantes encarregados das
collectae, que os pagavam; às vezes nem pagavam. Diz a respeito Odofredo,
sucessor de Irnério em Bolonha:
"Sabeis bem que, quando os doutores fazem coletas, o doutor não
pede aos escolares, mas escolhe dois deles para que sondem a vontade dos
outros; e os escolares se comprometem por intermédio deles. Mas os maus
escolares não querem pagar" (G.M., 1, 230-31). (p. 149)
Mas a Igreja não saiu de cena:
Mas, à parte o apoio do poder político aos estudantes, a Igreja manteve
uma espécie de supervisão sobre as universidades através da concessão, com
exame prévio dos títulos de estudo, da autorização para ensinar, a licentia
docendi. (A conventatio era a cerimônia pública que sucedia à da concessão da
licentia, interna da universidade.) Portanto, feita exceção à importante
iniciativa dos mestres livres, nota-se uma continuidade ininterrupta, pelo
menos na direção política, entre escolas episcopais e universidades. (p. 150)
Assim como as outras profissões se organizam
em corporações, os mestres também constituíram as suas e
Neles, numerosas são as normas que regulam não somente as relações
externas da arte ou corporação com o poder público e com o mercado [...], mas
também as relações internas entre trabalhadores, que podem ser mestres, sócios,
aprendizes e também diaristas assalariados. (p. 161-162)
A aceitação previa um verdadeiro contrato formal, assinado por dois
probiviri da arte, como testemunhas. (p. 163)
MANACORDA, Macio Alighiero. A educação na
Baixa Idade Média. In: ______. História da educação: da antiguidade aos
nossos dias. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1996. p. 140-167.
Quem é o autor da pintura?
ResponderExcluirCaro amigo! Infelizmente, com o passar dos anos, o link abaixo da imagem não reporta mais para uma descrição da mesma. Sendo assim, desconheço a autoria. Um abraço!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito vago a descrição sobre os termos usados por" scholasticus ou magischola" gostaria de saber
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