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A educação religiosa
Igreja como tal, por intermédio de um delegado
especialmente nomeado para isto, é que instruía o catecúmeno: desde as
primeiras gerações cristãs, vemos em função os "mestres", [...]
encarregados deste ensino e investidos para seu desempenho de um carisma
próprio. A instituição do catecumenado desenvolve-se progressívamente, à medida
que se multiplicam os novos convertidos: tomou sua forma definitiva em Roma por
volta de 180; exige então uma longa prova, cuja duração está fixada em três
anos, durante os quais é ministrado um ensino cuidadosamente programado. Muito
cedo, parece, este deixa de ser confiado a "didáscalos"
especializados: normalmente, padres são encarregados dele, embora caiba ao
bispo dar o último retoque a esta preparação: os discursos catequéticos que
conservamos de São Gregório de Nissa, de Cirilo de Jerusalém, de Teodoro de
Mopsuéstia, etc., mostram a que notável nível os grandes bispos do século IV
haviam elevado seu ensino. Santo Agostinho deu em seu tratado De
Catechizandis rubibus (por volta de 405) uma teoria da catequese cujo valor
propriamente pedagógico iria, por muitos séculos, assegurar-lhe sucesso. (p.
481)
A escola rabínica
Estas escolas foram estabelecidas por toda a parte: a
"casa da instrução", bêt hamidrâsch a "casa do
livro", bêt sêfer corresponde à sinagoga, a casa das preces, [...]
uma e outra, conjuntamente, representam a alma de toda a comunidade judia:
"Por tanto tempo quanto a voz de Jacó soar nas sinagogas e nas escolas, as
mãos de Esaú (compreendei, do Império romano perseguidor) não serão
vitoriosas." São cercadas de desvelado amor; o mestre, mesmo elementar, é
respeitado, enobrecido pelo próprio prestígio da palavra divina que transmite à
criança: "Deve-se ter tanta veneração Pelo mestre quanto por Deus",
dirá o Talmud. (p. 483-484)
O cristianismo aceita a escola
clássica
Tomemos um polemista tão violento, tão extremista quanto Tertuliano.
Ninguém sentiu nem analisou melhor o caráter idolátrico e imoral da escola
clássica: até o ponto de proibir o ensino aos cristãos como uma profissão
totalmente incompatível com a fé, do mesmo modo que a de fabricante de ídolos
ou a de astrólogo. Mas, como é inconcebível renunciar aos estudos profanos, sem
os quais os estudos religiosos se tornariam impossíveis (é realmente
necessário, para começar, aprender a ler), admite, como uma necessidade) que
a criança cristã freqüente, como aluna, a mesma escola que proíbe ao mestre.
Somente a este cabe reagir com conhecimento de causa, não se deixar penetrar
pela idolatria que veiculam o ensino e até o calendário escolar: deve
comportar-se como alguém que, em conhecimento de causa, recebe veneno mas se
abstém de bebê-lo. (p. 490)
Os cristãos no ensino clássico
Fato notável, a Igreja não seguiu Tertuliano na rigorosa interdição que
ele formulou com relação ao magistério. Por volta de 215, ou seja, ao tempo
mesmo em que Tertuliano escrevia seu De Idolatria (211-212), Santo
Hipólito de Roma redigia, sem dúvida para o uso de sua comunidade cismática, a Tradição
Apostólica) que devia obter, na Síria, no Egito e até na Etiópia, sucesso
tão duradouro: ele também cataloga as profissões incompatíveis com a vocação de
um cristão; fato notável, ele não se decide a tratar os professores com a mesma
severidade que o proxeneta, o histrião ou o fabricante de ídolos: "Se
alguém, diz ele, ensina às criancinhas as ciências deste mundo, seria melhor
que renunciasse entretanto, se não tem outro meio de vida, escusar-se-lhe-á.
"As coleções canônicas derivadas de Hipólito conservam esta tolerância ou
a dilatam ainda mais. (p. 491-492)
Não há dúvida ter sido esta a atitude normal da
Igreja; com efeito, muitos cristãos ensinaram nas escolas de tipo clássico. O
primeiro, cronologicamente, que conhecemos com certeza, é o grande Orígenes,
que, com dezessete anos, em 202-203, abriu uma escola de gramática, para prover
às necessidades de sua família que, o martírio de seu pai, Leônidas, seguido da
confiscação dos bens, deixara sem recursos. Foi tão pouco desprestigiado, em
razão disto, pelas autoridades eclesiásticas, que um ano mais tarde seu bispo,
Demétrio, lhe confiava o ensino oficial da catequese.
Meio século mais tarde, os cristãos estréiam no ensino
superior: em 264, um deles, Anatólio, o futuro bispo de Laodicéia, é chamado
por seus concidadãos de Alexandria para ocupar a cátedra ordinária de filosofia
aristotélica. Aproximadamente no mesmo tempo, em 268, encontramos na Antioquia
um padre, Malquião, que o sacerdócio não ímpede de dirigir uma escola de
retórica à maneira helênica 37. (p. 492)
Este curioso episódio merece um pouco mais de atenção: é a primeira
perseguição escolar da qual os cristãos foram vitimas, mas seu caráter
particular lança uma viva luz na questão que estudamos aqui. Por uma lei de 17
de junho de 362, o imperador Juliano interditava o ensino aos cristãos. O
próprio texto da lei falava simplesmente em submeter o exercício da profissão
pedagógica à autorização prévia das municipalidades e à sanção imperial, sob
pretexto de assegurar a competência e a moralidade do pessoal docente. Mas, por
uma circular anexa 42, Juliano precisava o que se devia entender por
moralidade. Os cristãos que explicam Homero e Hesíodo sem acreditar nos deuses
que estes poetas põem em cena são acusados de falta de franqueza ou de
honestidade, pois que ensinam algo em que não acreditam. São intimados a
apostatar ou a deixar seu ensino. (p. 492-493)
A lei escolar de
Juliano, o Apóstota
Pode-se dizer, sem paradoxo, que, por esta medida, Juliano
criava a primeira escola confessional, investida de uma missão de propaganda
religiosa. É admirável ver em que atmosfera de perfeita neutralidade se havia
desenvolvido o alto ensino nesta segunda metade do século IV. Os mestres são
tanto cristãos como pagãos e é seu valor pedagógico que atrai a eles os
estudantes, sem distinção de crença. Um pagão convicto como Eunápio orgulha-se
de haver sido aluno do cristão Proherésio; São João Crisóstomo, educado embora
numa atmosfera bem cristã por sua piedosa mãe Antusa, nem por isso deixou de
seguir os cursos do pagão Libânio; e não parece que nem um nem o outro haja
corrido o risco de ver-se convertido. . . (p. 493)
A reação dos cristãos foi bastante violenta, contra uma medida por eles
considerada como vexatória e humilhante; reação muito engenhosa também:
intimados pelo imperador a contentarem-se com "ir às suas igrejas de
galileus para ali comentar Mateus e Lucas", recusaram-se a ser assim
excluídos do benefício da tradição letrada e impuseram-se como dever improvisar
textos de estudo, clássicos de substituição. Esta foi a obra dos dois
Apolinários, o pai e o filho, dois professores alexandrinos que tinham vindo
tentar fortuna na Laodicéia da Siri a, onde seu zelo pela literatura causou sua
momentânea excomunhão. Trataram êles de adaptar o Pentateuco ao estilo
homérico, os livros históricos do Antigo Testamento ao estilo dramático e assim
por diante, lançando mão de todos os gêneros e de todos os metros, da comédia
de Menandro à ode pindárica. Quanto aos escritos do Nôvo Testamento, foram
arranjados em diálogos imitados de Platão. (p. 494)
A escassa influência cristã na escola
Poder-se-ia pensar que, quando o número dos mestres e dos alunos
cristãos se tornou relativamente preponderante, a escola se viu de fato
cristianizada. Bem vejo, por outro lado, que determinado texto canônico,
infelizmente difícil de datar (IV, V, VI século?), obriga o gramática cristão a
confessar diante dos seus alunos que "os deuses dos gentios não passam de
demônios" e que não há outro Deus além do Pai, o Filho e o Espírito Santo;
melhor ainda, parece encorajá-lo a "fazer apostolado" (para dizer no
jargão moderno): "Ensinar os poetas, está bem, mas se puder comunicar a
seus alunos o teor da fé, só terá com isto maior mérito." (p. 494-495)
Pode-se acreditar que estes conselhos foram às vezes
seguidos, pois Juliano o Apóstata censura os mestres cristãos por esbulharem os
poetas como Homero, acusando-os de ímpiedade, de loucura ou de erros, mas não
parece, a julgar pelos documentos que nos restam, que a pedagogia quotidiana
haja recebido uma marca da nova religião. (p. 495)
Escolas superiores de
teologia
Não há, pois, normalmente, escola cristã para os graus prímário e
secundário do ensino. Vemos aparecer, e isto desde meados do século II, escolas
superiores de teologia cristã, mas esta instituição não chegará a lançar na
Igreja raizes profundas, nem a perpetuar-se. (p. 497)
De fato, foram mestres heréticos, parece, que, em primeiro lugar, deram
o exemplo de tal ensino, mas logo tiveram êmulos entre os ortodoxos, como o
mostra o caso dos Apologistas, e notadamente do mais célebre entre eles,
Justino, o Mártir. Apresentavam-se, de bom grado, ornados com o titulo de
filósofos, vestindo seu traje: Eusébio diz-nos de Justino que ele ensinava
"com roupa (ou: com ares) de filósofo"; abriram uma verdadeira escola
[...], de enderêço conhecido. Eram tão perfeitamente filósofos que se chocavam
com a hostilidade, de certo modo profissional, dos seus rivais pagãos, dos
predicadores de tendência cínica, como este Crescêncio, que tanto fez São
Justino sofrer. (497-498)
Entre os auditores de Justino havia cristãos de nascimento, como
Evelpisto, que parece nos atos do seu martírio: Justino não se contentava,
pois, com conferências de propaganda dirigida aos pagãos de boa vontade, mas
devia ministra um ensino profundo, de grau superior. Notar-se-á que, diferente
dos catequistas, estes apologistas não são mandatários da hierarquia: são
leigos que ensinam sob a sua própria responsabilidade, “filósofos cristãos”,
não doutores da Igreja. (p. 498)
Século III: Roma e Alexandria
Este tipo de ensino durou até o século III: sob esta forma aparece-nos
o ensino de Clemente de Alexandria ou de um Hipólito de Roma: os discípulos
deste homenagearam-no com uma estátua que o representava como um filósofo
ensinando, sentado em um trono (que tem gravada uma lista de sua obras e a
tábua do seu cômputo pascal). Este monumento não é único: os monumentos
funerários cristãos anteriores à paz constantiana representavam comumente o
defunto nas atitudes de um “mestre”, de um filósofo ou de um letrado, meditando
ou comentando o Livro Sagrado. (p. 498)
São sempre, contudo, iniciativas de caráter privado. Com base nos
testemunhos de Eusébio e de Filipe de Sida, imaginou-se facilmente a
existência, em Alexandria, de uma Escola de Letras Sagradas, que durante dois
séculos teria tido sucessão regular [...] de mestres qualificados, como a das
seitas filosóficas gregas. Na realidade, se Alexendria foi, de Filão o Judeu a
São Cirilo, um incomparável meio de intensa atividade doutrinária, judia e
depois cristã, sômente depois de Orígenes teve escola oficial de teologia. (p.
498)
Desaparecimento dessas
escolas
O clero não é formado nas escolas, mas pelos contatos pessoais com o
bispo e os sacerdotes mais idosos, no seio do clero local a que se encontra
ligado, freqüentemente muito cedo, desde a infância, na qualidade de leitor.
Assim, do ponto de vista das instituições pedagógicas, há, do século
III ao século IV, não progresso, mas regressão formal. Quando São Jerônimo, por
exemplo, nos diz que, no decorrer das suas viagens da juventude pelo Oriente,
ouviu as aulas de Apolionário em Antioquia, de Didino, o cego, em Alexandria,
de Gregório de Nazianza em Constantinopla, deve-se entender que ser trata de
aulas particulares, sem caráter professoral, de relações pessoais de homem para
homem. (p. 500-501)
MARROU, Henri-Irinée. O
cristianismo e a educação. In:___. História da educação na antiguidade.
São Paulo: EPU, 1975. p. 477-501.
Professor estou no primeiro período de pedagogia,tenho fobia social tenho pânico de seminário.E já apareceu o primeiro.Historia da educação (O cristianismo como revolução educativa) meu tema é a família e a educação cristã a infância e as mulheres do livro de Franco cambi não consigo nem resumir de tanto nervoso não sei nem o que falar.
ResponderExcluirBusque apoio. Muitas instituições tem algum tipo de serviço de apoio aos estudantes. O conteúdo não é difícil, exige esforço em ler e resumir. Agora sobre como superar sua fobia eu não tenho nada a dizer além de te recomendar a busca de algum serviço de saúde na instituição ou fora dela para te ajudar. Um abraço e bons estudos!
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