http://maosabertassonhosasolta.blogspot.com.br/2010/05/violencia-contra-os-mestres-na-grecia-e.html
No período anterior aos sete anos a
criança não recebe nenhum tipo de educação formal e/ou sistemática. É a partir
dos sete anos que esta educação passa a se dar.
Preceptor
ou pedagogo
Já não há mais a educação privada,
porém, existe uma figura do meio privado que deve zelar pela educação dos
jovens: o pedagogo
Notemos,
entretanto, a persistência de um elemento privado: entre o número dos mestres
que contribuem para a formação da infância figura o "pedagogo" [...]
o servidor encarregado de acompanhar a criança nos trajetos quotidianos entre o
domicílio e as escolas. Seu papel é em princípio modesto: é um simples escravo,
encarregado de carregar a pequena bagagem de seu jovem amo, ou a lanterna que
deve servir para iluminar o caminho, por vêzes a própria criança, se está
fatigada (remeto o leitor às encantadoras terracotas que no-lo mostram em
ação). (p. 126)
Essa personagem não tem por finalidade
educar técnicamente, mas a educação moral é que constitui o objeto de seu
trabalho:
Mas êste
papel tinha também um aspecto moral: se se fazia acompanhar a criança, é que se
tornava necessário protegê-Ia contra os perigos da rua, e sabe-se quais eram;
o pedagogo exerce sôbre seu pupilo uma contínua vigilância, muitas vêzes
sentida, com o tempo, à idade da adolescência, como uma insuportável tirania.
Muito naturalmente, apesar de seu caráter servil e do pouco prestígio de que,
muito freqüentemente, gozava, estende sua função além desta proteção negativa:
ensina à criança as boas maneiras, forma seu caráter e sua moralidade. Embora à
margem da instrução de ordem técnica que os diversos mestres ministram (e para
a qual contribui freqüentemente na qualidade de repetidor, incumbido de ensinar
as lições, etc.), é tôda a educação moral que está confiada ao
"pedagogo", cujo papel perpetua assim, na burguesia helenística, o do
"preceptor" dos heróis homéricos. [...] (p. 227)
Este se trata “de educador no sentido
pleno (embora permaneça sempre distinto do "mestre" ministrador de
ciência).” (p. 227)
Difusão
da escola primária
A língua
reflete também a importância, doravante preponderante, que o ensino das letras
tomou na educação: quando se diz, absolutamente, "o mestre" [...] é
o instrutor, o mestre-escola que ensina a ler [...] que se designa assim, e a
"escola" sem mais nada [...] é o estabelecimento onde êle ensina.
(p. 227)
Os
locais escolares
Podemos verificar que não há estrutura a
disposição do “mestre”
Nada
sabemos de bem preciso sôbre os locaís ocupados pelas escolas primárias. Como
há muito tempo entre nós, como aínda hoje em países muçulmanos, devia ser uma
sala qualquer, que nada de especial predispunha para o uso escolar. Uma só peça
teria sido suficiente: não parece estabelecido, como por vêzes se afirmou, ter
sido precedida de uma sala de espera onde os pedagogos permanecessem durante o
tempo da aula: é mais provável que êles assistissem a esta, sentados à parte,
como no-lo mostram já os vasos do quinto século. (p. 228)
Condições
do mestre
As condições “profissionais” do mestre
são também precárias em relação a sua condição social e econômica:
Aí ensina
o mestre; êle é geralmente o único a assumir a responsabilidade de uma classe:
na época pré-romana, não se vê aparecer freqüentemente "mestre-coadjuvante"
[...] nem repetidores fornecidos pelos alunos grandes. Quanto ao próprio
mestre, temos a surprêsa de descobrir quão pouco caso a sociedade antiga fazia
desta função docente que a nossa considera, ou pretende considerar, com
respeito e honra.
Quem eram esses mestres?
O ofício
de mestre-escola permanece, durante tôda a Antigüidade, um ofício humilde,
bastante desprezado, que serve para desacreditar aquêles como Ésquilo ou
Epicuro, cujo pai foi constrangido a praticá-lo. Como o trabalho de instrutora
ou de governanta na Inglaterra vitoriana, é a profissão típica para o homem de
boa família que sofreu reveses da fortuna: exilados políticos, apátridas
errantes "reduzidos pela miséria a ensinar", tiranos destronados,
como outrora Dionísio de Siracusa. . .Lembremo-nos dos reis de Luciano que,
nos infernos, despojados de sua fortuna, se viram forçados a tornar-se
mercadores de salgados, mestres de primeiras letras ou sarrafaçais: "Ou
morreu, ou é instrutor em alguma parte", costumava dizer um cômico sôbre
alguém de quem não se tivesse notícias. (p. 229)
Por que
êste desprêzo? De início, salvo o caso das cidades onde, como Mileto ou Teos,
as escolas se tornaram públicas e onde o mestre, eleito pela assembléia dos
cidadãos, participa da dignidade de magistrado público, ser instrutor é um
"ofício", no sentido comercial e servil da palavra: faz-se mister
correr à clientela, fazê-Ia pagar-lhe, coisas estas tôdas desonrosas aos olhos
dos aristocratas que seguiam sendo os gregos.. (p. 230)
E que condições econômicas viviam os
“mestres”?
Ofício
pago, e, o que é pior, mal pago: os documentos mais precisos a êsse respeito
são as cartas epigráficas de Miletoe de Teos: a primeira fixa o salário dos
mestres de primeiras letras em quarenta dracmas mensais, a segunda em
quinhentas dracmas por ano, no ano normal (é proporcionalmente aumentado nos
anos em que se anexa um mês intercalado: nos dois casos, êste salário é um
pouco mais elevado que o de um obreiro qualificado, cujo sôldo, sabe-se, era
normalmente de uma dracma por dia, mas não é bastante para representar uma
elevação real do nível de vida.
Ainda era
preciso estar seguro de ser regularmente pago. O caso de Teos e de Mileto é
excepcional: aí, o salário dos mestres, assegurado pelas rendas de uma
fundação, está inscrito no orçamento da cidade e é pago pelos tesoureiros
municipais conformemente a um minucioso estatuto. Alhures, por tôda parte, os
mestres devem contar com as eventualidades da clientela particular; em
princípio, êles eram como os instrutores públicos de Mileto e de Teos, pagos
no fim de cada mês, mas os pais necessitados fazem-nos por vêzes esperar sem
falar nos harpagões, como o de Teofrasto, que procura economizar um mês dentre
doze fazendo seu filho faltar à escola durante o mês de Antestérion, sob o pretexto
de que são muitos então os feriados e que os dias escolares restantes já não
são tantos que mereçam a despesa. (p. 230)
Qual a qualificação necessária para ser
”mestre”? A qualificação tem influência em relação aos salários?
Mas
sobretudo o ofício de instrutor não é considerado, porque no fundo não supõe
qualificação especial. Em nenhuma parte trata-se de exigir dos mestres uma
formação profissional análoga à que proporcionam nossas escolas normais atualmente:
a lei escolar de Mileto, tão preciosa por sua minúcia, mostra-nos como se
faziam as eleições para êsse cargo; não se exige do candidato nenhum título e
os eleitores são simplesmente incumbidos de escolher, conscienciosamente,
"os mais capazes de ocupar-se com as crianças". Não se exigia dos
mestres, parece, nenhuma garantia, a não ser do ponto de vista moral, caráter,
honorabilidade: tecnicamente, quem quer que houvesse aprendido a ler era
considerado capaz de por sua vez improvisar-se em mestre; bastava pôr em
prática suas recordações de infância. (p. 230-1)
Mas nem tudo eram desgraças:
Eu,
porém, não gostaria de deixar o leitor sob uma impressão forte demais: por mais
mal pago que fôssem, os mestres de primeiras letras têm, em Mileto pelo menos,
uma situação ligeiramente superior à dos seus colegas de ginástica, que recebem
apenas trinta dracmas por mês. Por ser desacreditada, sua profissão, tão útil,
não deixa de receber, aqui ou ali, estímulos oficiais: no terceiro século antes
de Cristo, Lâmpsaco concede-lhes a imunidade fiscal e Ptolomeu Filadelfo a
isenção da gabela; enfim, certos monumentos atestam que seus antigos discípulos
os cercavam por vêzes de um respeito repassado de gratidão, como o indica o
epitáfio de um velho mestre de Rodes, falecido após cinqüenta e dois anos de
magistério. (p. 231)
Escola
e educação
A figura do mestre escola (gramatista) é
como a do escriba instrutor:
O mestre
de primeiras letras é encarregado de um setor especializado da instrução, provê
tecnicamente a inteligência da criança, mas não é êle quem educa. O essencial
da educação é a formação moral, a do caráter, do estilo de vida. O
"mestre" está encarregado apenas de ensinar a ler, o que é muito
menos importante. A associação, que nos parece hoje natural, da instrução
primária e da formação moral é, entre nós, uma herança da Idade Média, ou
melhor: da escola monástica, onde a um mesmo personagem coube promover a
síntese de dois papéis bem distintos: o de instrutor e o de pai espiritual. Na
Antigüidade, o mestre de primeiras letras é alguém muito apagado para que a
família pense em confiar-lhe, como o faz tão freqüentemente hoje, a
responsabilidade da educação. Se alguém, que não os pais, recebe esta missão, é
decerto o pedagogo: um simples escravo, sem dúvida, mas que pelo menos
pertence à casa e que, através do contato quotidiano, pelo exemplo se possível,
em todo caso através dos preceitos e de uma vigilância atenta, contribui para a
educação, e sobretudo para a educação moral, incomparavelmente superior às
aulas puramente técnicas do "gramatista". (p. 232)
Aqui temos que analisar duas figuras
distintas: o pedagogo e o “mestre-escola”.
O pedagogo é um escravo responsável pelo
cuidado e pela formação moral da criança. Trata-se de uma pessoa de boa formação
que por alguma circustância levou a escravidão, principalmente, ser tornado
prisioneiro de guerra ou não poder saldar uma divida.
O “mestre-escola” é responsável pela
educação técnica, a técnica da escrita e leitura. Esse não tem papel moral.
Trata-se de um cidadão, também, passou por reveses na vida e acabau tendo que
vender os seus serviços como ”mestre”.
Ambos não eram valorizados socialmente,
um pela sua condição de escravo e o outro por ter que viver de trabalho pago (o
que era visto com desprezo pela aristocracia).
MORROU, Henri-Irénée. A escola primária. In: ___. História da educação na antiguidade. São
Paulo: EPU, 1975. p. 224-235.
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