http://www.brasilescola.com/historiag/a-educacao-espartana.htm
A
cultura arcaica de Esparta
A Esparta arcaica é diferente da Esparta
do período clássico. Trata-se de uma cidade onde as artes têm um espaço
privilegiado, sendo o principal centro cultural da Grécia. Esparta é nessa
época, proporcionalmente falando, o que Atenas virá a ser séculos depois.
O princípio homérico do herói
cavalheiresco está presente fortemente, mas isto está para mudar.
Militar
e cívica
Esparta vai se tornando cada vez mais
militar:
Importa,
contudo, salientar a evolução, técnica e ética ao mesmo tempo, que se
registrara desde a idade média homérica: a educação do cidadão espartano não é
mais a de um cavalheiro, mas a de um soldado; insere-se numa atmosfera
"política", e não mais senhorial. (p. 35)
Essa mudança tem suas conseqüências:
Na base
dessa transformação ocorre uma revolução de ordem técnica: a decisão, no
combate, não depende mais de uma série de encontros singulares de cavaleiros
apeados de seus carros, mas do choque de duas linhas de infantes em ordem
cerrada; a infantaria pesada dos hoplitas é doravante a rainha das batalhas
(haverá em Esparta um corpo privilegiado de cavaleiros, mas êstes [...] parecem
ter sido uma Polícia secreta de Estado). (p.35)
O ideal do cavalheiro dá lugar ao
do soldado:
Vê-se com
que energia o nôvo ideal subordina a pessoa humana à coletividade política: a
educação espartana, segundo a feliz fórmula de W. Jaeger, não terá mais por
fim selecionar heróis, mas formar uma cidade inteira de heróis - soldados
prontos a se devotarem à pátria. (p. 36)
Devoção essa que pode ser visto nas
palavras de Tirteu citadas por Morrou: [...] “é belo morrer, abatido na linha
de frente, como um bravo que combate pela pátria.”
Esportiva
Tem importância significativa na medida
em que através dos esportes os futuros soldados “ensaiam” para as batalhas que
virão a enfrentar. Também tem importância por ajudar a manter em forma os
soldados nos períodos de paz.
E
musical
Ajuda a transmitir e “inculcar” os
valores guerreiros.
Educação
de estado
Toda essa estrutura de guerra necessita
de um processo educativo para ser constituído e o Estado espartano é quem
promove esta educação.
Sob sua
forma clássica, a educação espartana, [...] conserva o mesmo fim claramente
definido: o "adestramento" do hoplita (é a infantaria pesada que
havia feito a superioridade militar de Esparta: esta só será vencida depois das
inovações táticas de Ificrates de Atenas e dos grandes chefes tebanos do quarto
século, que superarão seu instrumento de combate). Organizada inteiramente em
função das necessidades do Estado, está inteiramente nas mãos dêste. [...] Ser
educado segundo as normas, é uma condição necessária, senão suficiente, para o
exercício dos direitos cívicos. (p. 41)
A criança permanecia com os pais apenas
nos primeiros anos.
Até os
sete anos, o Estado consente em delegar seus poderes à família: nas idéias
gregas, a educação ainda não começou; até os sete anos, trata-se apenas de
"criação" [...]; as mulheres de Esparta eram, nisso, tradicionalmente
versadas: as amas lacônias eram bastante procuradas e particularmente
apreciadas em Atenas. (p. 41-2)
O trecho a seguir nos dá uma idéia da
trajetória que todo indivíduo era levado a fazer:
Ao atingir
sete anos, o jovem espartano é requisitado pelo Estado: até à morte,
pertence-lhe inteiramente. A educação propriamente dita vai dos sete aos vinte
anos; ela é disposta sob a autoridade direta de um magistrado especial,
verdadeiro comissário da Educação nacional [...]. A criança é integrada em formações
juvenis, cujas categorias hierarquizadas apresentam alguma analogia com as de
nosso escotismo e, mais ainda, com as dos movimentos juvenis dos Estados
totalitários de tipo fascista, como a Gioventu fascista ou a Hitlerjugend.
A nomenclatura, complicada e pitoresca, que servia para designar a série
das classes anuais, interessou os eruditos antigos e, depois dêles, os
modernos. (p. 42)
Como podemos verificar na passagem
anterior o educador exerce uma função de Estado. Esse educador deve “adestrar”
os futuros soldados.
Moral
totalitária
O educador
espartano procura desenvolver no jovem a resistência à dor: impõe-lhe,
sobretudo a partir dos doze anos, um regime de vida áspero, no qual a nota de
rudeza e de barbárie vai-se acentuando continuamente. (p. 46)
Faz parte desse adestramento um discurso
moral que tem por finalidade tornar esses “bárbaros” obedientes ao comando das
autoridades, autoridades essas que personificam a pátria.
A
educação das moças
Nessa sociedade machista há alguns
espaços para a educação das mulheres:
[...]
recebiam elas uma formação estritamente regulamentada, na qual a música, a
dança e o canto desempenham um papel mais apagado que a ginástica e o esporte.
A graça arcaica cede o passo a uma concepção utilitária e crua: como a mulher
fascista, a mulher espartana tem o dever de ser antes de tudo uma mãe fecunda
em filhos vigorosos. Sua educação é subordinada a, esta preocupação de
eugenia: procura-se "tirar-lhe a delicadeza e a feminilidade",
enrijecendo-Ihe o corpo, obrigando-a a exibir-se nua nas festas e nas
cerimônias: o objetivo é fazer das virgens espartanas robustas viragos sem
complicações sentimentais, que se acasalarão ao melhor dos interêsses da
raça... (p. 46)
O presente texto nos apresentou algumas
pistas e, também, nos deixou algumas perguntas. Sabemos que o educador é um
agente do Estado, numa definição moderna: funcionário público. As questões são:
qual era a trajetória para se chegar a condição de educador? Por ser este um
funcionário do Estado podemos saber que este é sustentado por este Estado, mas
sob que condições? Sobre as condições materiais desse educador também não temos
informações.
MORROU, Henri-Irénée. A educação espartana. In: ___. História da educação na antiguidade. São
Paulo: EPU, 1975. p. 33-50.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você recebeu um comentário.