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O presente texto
não contribui muito para compreender a condição de trabalho dos “professores”.
Vamos nos ater na estrutura do sistema educacional e nas magistraturas,
elementos que ao meu ver são relevantes para compreendermos a condição dos
“professores”.
Como é concebida
a trajetória educativa?
Sob sua
mais completa forma, a educação helenística supõe um conjunto complexo de
estudos, que vai dos sete aos dezenove ou vinte anos. Apoiar-me-ei, para precisar-lhe
os estágios, na velha divisão de Hipócrates (sem ser enganado pelo seu rigor
simétrico: sabe-se quanto a Antigüidade, de Pitágoras às alegorias bíblicas dos
Padres da Igreja, se comprouve em especular sôbre os números). Hipócrates,
diz-se, dividia a vida humana em oito períodos de sete anos: a educação
clássica reclamava para si os três primeiros, designados pelos nomes de [...]
"criancinha" (abaixo de sete anos) [...] "criança" (de sete
a catorze anos), e [...] "adolescente" (de catorze a vinte e um).
(p. 164)
Como é o
“caminho a se percorrer”?
Até os
sete anos, a criança permanece com sua família, sob os cuidados das mulheres;
os antigos, tão preocupados com a finalidade humana da educação (a criança como
tal não lhes interessa), quase não se ocupam com essa primeira fase, que para
êles não faz parte ainda da Paidéia no sentido pleno da palavra. A partir dos
sete anos, e teoricamente até os catorze (Aristóteles diz mais vagamente até à
puberdade, [...] estende-se o período escolar: mais ou menos equivalente
ao nosso curso primário. O período seguinte culmina de certo modo com um
estágio de formação cívica e militar, a efebia. (p. 165)
Em que consiste
a efebia? “Ela corresponde, então, exatamente ao serviço militar obrigatório,
tal como foi organizado em nossos Estados modernos.” (p. 169) A concepção a
respeito da efebia logo teve que mudar:
Mas que
trágica ironia! Atenas organiza meticulosamente o recrutamento de sua armada
nacional no momento preciso em que a vitória de Filipe e a hegemonia macedônica
acabavam de pôr fim à independência helênica, ao regime da cidade livre. Como
acontece tão freqüentemente à história das instituições, a da efebia só foi
definitivamente regulamentada na data em que, praticamente, cessou de ter sua
razão de ser. (p. 170)
As magistraturas efébicas
A
integração da efebia no quadro oficial da cidade, que se explica pelas próprias
origens da instituição, traduz-se concretamente pela. existência de magistrados
incumbidos do contrôle, da sobrevivência e da direção efetiva do colégio. De
tôdas essas funções, a mais geralmente representada é a que leva o nome
característico de "chefe do ginásio" [...]: é sempre confiada a um
personagem muito considerado, às vêzes "o primeiro da cidade",
escolhido, ver-se-á logo por que, entre os mais influentes cidadãos e sobretudo
os mais ricos. (p. 176)
Esse “chefe do
ginásio” é denominado ginasiarca, a atividade exercida por ele corresponde a de
diretor de escola de nosso tempo e tem, como podemos ver auxiliares
Esta alta
personagem é ajudada em sua tarefa por um adjunto, o hipo (ou, mais raramente,
o anti) ginasiarca. Em Atenas vê-se igualmente introduzir-se ao lado do cosmeta
um, às vêzes dois sub (ou anti) cosmetas; no quarto século, a
administração efébica é, além disso, assegurada por uma comissão de
"controladores da sabedoria" [...] em número de dez, eleitos à razão
de um por tribo; desaparecida em uma data incerta no decorrer do período
helenístico, essa comissão reaparece no Império: é composta então por seis sofronístas
duplicados em outros tantos sub-sofronistas. Nas cidades populosas
ou bem organizadas, os ginásios multiplicam-se, especializando-se por classes
de idade, e a função desdobra-se: acima dos ginasiarcas encarregados de cada
estabelecimento, um ginasiarca geral controla o conjunto de todos os da cidade
(p. 177)
Essa comissão de
“controladores do saber” pode ser comparada aos nossos conselhos de educação.
Não podemos confundir o ginasiarca com o professor
[...] não
é êle quem se ocupa da instrução dos efebos, da qual é encarregado um prático,
o pedótriba em Atenas, [...]. Muitas vêzes um oficial, que lhe é normalmente
subordinado, assume o comando direto da tropa dos jovens conscritos: é o
"chefe dos efebos" [...] escolhido às vêzes entre os próprios efebos.
O ginasiarca é, pois, uma espécie de diretor geral, ou melhor, de controlador,
de inspetor da efebia. (p. 177)
Aqui encontramos a “administração
escolar”. O ginasiarca corresponde ao diretor com seu vice (sub-ginasiarca).
Também há o ginasiarca geral que corresponde de certa forma, ao secretário de
educação. Há a comissão de “controladores de sabedoria” para corresponder aos
nossos conselhos de educação. O professor aqui é chamado de pedótriba.
O mais interessante nisso tudo é que
essas personagens se tratam de cidadãos, são homens públicos que se empenham em
prol da educação, não são os “professores”.
MORROU, Henri-Irénée.
Instituições educativas. In: ___. História
da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1975. p. 164-184.
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