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segunda-feira, 22 de abril de 2013

OS MESTRES DA TRADIÇÃO CLÁSSICA: I. PLATÃO


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Ao tratar sobre a tradição clássica Marrou toma como modelos dois personagens que se destacaram: Platão, representando os filósofos e Isócrates representando os Sofistas. O próprio autor adverte que estes representantes não são uma espécie de modelos que teriam sido seguidos por todos os outros membros de suas respectivas escolas. Platão não era unânime entre os filósofos da época e nem Isócrates era unânime entre os sofistas.

Os socráticos menores

Muitos dos socráticos menores acabam por assumirem práticas dos Sofistas:

Excetuando Fédon de Elis, que é mais idoso, mais “arcaico” (sua escola é ainda uma escola filosófica do tipo jônico). Todos êles são, como os Sofistas, educadores profissionais, certamente não mais itinerantes (suas escolas instalam-se em cidades das quais tomam os nomes: Mégara, Erétria), mas sempre dispostos a pronunciar conferências de propaganda com fito de granjear freguesia [...] (104-5)

Porém, como podemos ver, essa prática parecida se dá no âmbito profissional, mas o objetivo por detrás da educação serão diferentes: “Mas o ideal em função do qual informam os seus discípulos é, como em Platão, e, evidentemente, em Sócrates, um ideal de Sabedoria [...], mais do que eficiência prática.” (p. 105) Haverá uma disputa “encarniçada” com os Sofistas.

Carreira e ideal político de Platão

Como estratégia para a execução de seu ideal político Platão funda a Academia, esta vem a render bons frutos:

Vale-se, para isto, da cooperação de seus discípulos, uma vez que a Academia não é apenas uma escola de filosofia, mas também de ciências políticas, uma fonte de conselheiros e legisladores à disposição dos soberanos ou das repúblicas. Plutarco conservou-nos a lista dos estadistas que Platão disseminou pelo mundo helênico: Dion de Siracusa, Píton de Heráclides, libertadores da Trácia; Cábrias e Fócion, os grandes estrategistas atenienses; Aristônimo, legislador de Megalópolis de Arcádia, Fórmion de Eléia, Medenemo de Pirra, Eudóxio de Cnidos, Aristóteles de Estagira; e, finalmente, Xenócrates, que foi conselheiro de Alexandre... [...] (p. 108)

A procura da verdade

A obra pedagógica de Platão ultrapassou de muito, em importância histórica, o papel propriamente político que êle lhe havia designado. Opondo-se ao pragmatismo dos Sofistas, demasiado apegados a eficácia imediata, Platão edifica todo o seu sistema educacional sôbre a noção fundamental da verdade, sôbre a conquista da verdade pela ciência racional. (p. 110)

Organização da Academia

É-nos possível verificar como se dá a prática pedagógica de Platão:

Tudo o que os Diálogos nos permitem entrever mostra-nos Platão como um partidário dos métodos ativos: seu método dialético é bem o contrário de uma doutrinação passiva. Longe de inculcar em seus discípulos o resultado, já elaborado, de seu próprio esforço, ao Sócrates pintado por Platão apraz, ao contrário, fazê-los trabalhar, fazê-los descobrir por si mesmos, de início, dificilmente, e depois, à custa de aprofundamento progressivo, o meio de superá-la. A Academia era, pois, ao mesmo tempo, uma Escola de Altos Estudos e um instituto de educação. (112)

E a organização dessa instituição:

Começamos agora a visualizar, de maneira bastante nítida, os quadros de sua organização; a Academia tem uma sólida estrutura institucional: ela não se apresenta como uma empresa comercial, mas na forma de uma confraria, de uma seita, cujos membros se acham estreitamente unidos pela amizade (sempre êste vínculo afetivo, senão passional, entre mestre e alunos). Do ponto de vista legal, ela é, como uma seita pitagórica, uma associação religiosa [...], uma confraria voltada ao culto das Musas e, após a morte do mestre, ao culto de Platão heroificado [...] (p. 112-113)

Utopia e antecipações

Platão tem algumas utopias que acabam por se concretizando no futuro, o que faz dessas utopias antecipações do que viria a acontecer:

Antes de tudo, a exigência fundamental: a educação deve – diz êle – tornar-se coisa pública; os mestres serão escolhidos pela cidade, controlados por magistrados especiais... Em sua época, êste anseio não era realizado quase senão nas cidades aristocráticas, como em Esparta; por tôda parte, alhures, a educação era livre e privada. Ora, veremos que a Grécia helenística adotaria, muito genéricamente, um regime bastante análogo àqueles que recomendam as Leis. Do mesmo modo igualmente rigoroso que êle preceitua, entre a educação dos rapazes e das môças (educação paralela, mas não co-educação: a partir dos seis anos, os dois sexos têm mestres e classes distintos), assume, nas tintas de sua pena, o exagero de um paradoxo: ela apenas reflete um fato real, qual seja a emancipação das mulheres na sociedade do quarto século, e, também nisto, antecipa as realizações da época helenística. (p. 114-115)
  
Outros aspectos a considerar         

Platão defende a educação elementar tradicional, para ele esta educação não leva a verdade, mas abre caminho para ela à medida que prepara o indivíduo para os estudos superiores.

Ele também surpreende por incluir nos estudos de sua Academia um espaço importante para as matemáticas, inclusive ele acredita que através dessa ciência é que se deveriam realizar seleções para futuros profissionais de diversas áreas. Outro ponto importante, que não descreveremos aqui, é o ciclo de estudos filosóficos constituídos por ele e aplicados na Academia.

Este capitulo não nos dá muitas pistas em relação às condições de trabalho do educador Platão: como se dava a sustentabilidade da Academia? Sou levado a crer que os discípulos contribuíam financeiramente para a manutenção desta e que daí saia o sustento de Platão.

O que há de mais relevante no que diz respeito ao trabalho docente é a compreensão que o filósofo tem a respeito da necessidade da educação ser pública e dos professores serem funcionários públicos.

MORROU, Henri-Irénée. Os mestres da tradição clássica: I. Platão. In: ___. História da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1975. p. 103-129.

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