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quinta-feira, 25 de abril de 2013

INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS


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O presente texto não contribui muito para compreender a condição de trabalho dos “professores”. Vamos nos ater na estrutura do sistema educacional e nas magistraturas, elementos que ao meu ver são relevantes para compreendermos a condição dos “professores”.

Como é concebida a trajetória educativa?

Sob sua mais completa forma, a educação helenística supõe um conjunto complexo de estudos, que vai dos sete aos dezenove ou vinte anos. Apoiar-me-ei, para preci­sar-lhe os estágios, na velha divisão de Hipócrates (sem ser enganado pelo seu rigor simétrico: sabe-se quanto a Antigüidade, de Pitágoras às alegorias bíblicas dos Pa­dres da Igreja, se comprouve em especular sôbre os núme­ros). Hipócrates, diz-se, dividia a vida humana em oito períodos de sete anos: a educação clássica reclamava para si os três primeiros, designados pelos nomes de [...] "criancinha" (abaixo de sete anos) [...] "criança" (de sete a catorze anos), e [...] "adolescente" (de ca­torze a vinte e um). (p. 164)

Como é o “caminho a se percorrer”?

Até os sete anos, a criança permanece com sua fa­mília, sob os cuidados das mulheres; os antigos, tão preocupados com a finalidade humana da educação (a criança como tal não lhes interessa), quase não se ocupam com essa primeira fase, que para êles não faz parte ainda da Paidéia no sentido pleno da palavra. A partir dos sete anos, e teoricamente até os catorze (Aristóteles diz mais vagamente até à puberdade, [...] estende-se o período escolar: mais ou menos equivalente ao nosso curso primário. O período seguinte culmina de certo modo com um estágio de formação cívica e militar, a efebia. (p. 165)

Em que consiste a efebia? “Ela corresponde, então, exatamente ao serviço mi­litar obrigatório, tal como foi organizado em nossos Es­tados modernos.” (p. 169) A concepção a respeito da efebia logo teve que mudar:

Mas que trágica ironia! Atenas organiza meticulo­samente o recrutamento de sua armada nacional no momento preciso em que a vitória de Filipe e a hegemonia macedônica acabavam de pôr fim à independência helê­nica, ao regime da cidade livre. Como acontece tão freqüentemente à história das instituições, a da efebia só foi definitivamente regulamentada na data em que, praticamente, cessou de ter sua razão de ser. (p. 170)

As magistraturas efébicas

A integração da efebia no quadro oficial da cidade, que se explica pelas próprias origens da instituição, traduz-se concretamente pela. existência de magistrados incumbidos do contrôle, da sobrevivência e da direção efetiva do colégio. De tôdas essas funções, a mais geralmente representada é a que leva o nome característico de "chefe do ginásio" [...]: é sempre confiada a um personagem muito considerado, às vêzes "o pri­meiro da cidade", escolhido, ver-se-á logo por que, entre os mais influentes cidadãos e sobretudo os mais ricos. (p. 176)

Esse “chefe do ginásio” é denominado ginasiarca, a atividade exercida por ele corresponde a de diretor de escola de nosso tempo e tem, como podemos ver auxiliares

Esta alta personagem é ajudada em sua tarefa por um adjunto, o hipo (ou, mais raramente, o anti) gina­siarca. Em Atenas vê-se igualmente introduzir-se ao lado do cosmeta um, às vêzes dois sub (ou anti) cosmetas; no quarto século, a administração efébica é, além disso, assegurada por uma comissão de "controladores da sabedo­ria" [...] em número de dez, eleitos à razão de um por tribo; desaparecida em uma data incerta no decor­rer do período helenístico, essa comissão reaparece no Im­pério: é composta então por seis sofronístas duplicados em outros tantos sub-sofronistas. Nas cidades populo­sas ou bem organizadas, os ginásios multiplicam-se, es­pecializando-se por classes de idade, e a função desdo­bra-se: acima dos ginasiarcas encarregados de cada esta­belecimento, um ginasiarca geral controla o conjunto de todos os da cidade (p. 177)

Essa comissão de “controladores do saber” pode ser comparada aos nossos conselhos de educação. Não podemos confundir o ginasiarca com o professor

[...] não é êle quem se ocupa da instrução dos efebos, da qual é encarregado um prático, o pedótriba em Atenas, [...]. Muitas vêzes um oficial, que lhe é normalmente subordinado, assume o comando direto da tropa dos jovens conscritos: é o "chefe dos efebos" [...] escolhido às vêzes entre os próprios efebos. O ginasiarca é, pois, uma espécie de diretor geral, ou melhor, de controlador, de inspetor da efebia. (p. 177)
   
Aqui encontramos a “administração escolar”. O ginasiarca corresponde ao diretor com seu vice (sub-ginasiarca). Também há o ginasiarca geral que corresponde de certa forma, ao secretário de educação. Há a comissão de “controladores de sabedoria” para corresponder aos nossos conselhos de educação. O professor aqui é chamado de pedótriba.

O mais interessante nisso tudo é que essas personagens se tratam de cidadãos, são homens públicos que se empenham em prol da educação, não são os “professores”.

MORROU, Henri-Irénée. Instituições educativas. In: ___. História da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1975. p. 164-184.

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