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domingo, 28 de abril de 2013

A ESCOLA PRIMÁRIA


http://maosabertassonhosasolta.blogspot.com.br/2010/05/violencia-contra-os-mestres-na-grecia-e.html

No período anterior aos sete anos a criança não recebe nenhum tipo de educação formal e/ou sistemática. É a partir dos sete anos que esta educação passa a se dar.

Preceptor ou pedagogo

Já não há mais a educação privada, porém, existe uma figura do meio privado que deve zelar pela educação dos jovens: o pedagogo

Notemos, entretanto, a persistência de um elemento privado: entre o número dos mestres que contribuem para a formação da infância figura o "pedagogo" [...] o servidor encarregado de acompanhar a criança nos trajetos quotidianos entre o domicílio e as escolas. Seu papel é em princípio modesto: é um simples escravo, encarregado de carregar a pequena ba­gagem de seu jovem amo, ou a lanterna que deve servir para iluminar o caminho, por vêzes a própria criança, se está fatigada (remeto o leitor às encantadoras terra­cotas que no-lo mostram em ação). (p. 126)

Essa personagem não tem por finalidade educar técnicamente, mas a educação moral é que constitui o objeto de seu trabalho:

Mas êste papel tinha também um aspecto moral: se se fazia acompanhar a criança, é que se tornava neces­sário protegê-Ia contra os perigos da rua, e sabe-se quais eram; o pedagogo exerce sôbre seu pupilo uma contínua vigilância, muitas vêzes sentida, com o tempo, à idade da adolescência, como uma insuportável tirania. Mui­to naturalmente, apesar de seu caráter servil e do pouco prestígio de que, muito freqüentemente, gozava, es­tende sua função além desta proteção negativa: ensina à criança as boas maneiras, forma seu caráter e sua moralidade. Embora à margem da instrução de ordem técnica que os diversos mestres ministram (e para a qual contribui freqüentemente na qualidade de repetidor, incumbido de ensinar as lições, etc.), é tôda a educação moral que está confiada ao "pedagogo", cujo papel perpetua assim, na burguesia helenística, o do "preceptor" dos heróis homéricos. [...] (p. 227)

Este se trata “de educador no sentido pleno (embora permaneça sempre distinto do "mestre" minis­trador de ciência).” (p. 227)

Difusão da escola primária

A língua reflete também a importância, doravante preponderante, que o ensino das letras tomou na edu­cação: quando se diz, absolutamente, "o mestre" [...] é o instrutor, o mestre-escola que ensina a ler [...] que se designa assim, e a "escola" sem mais nada [...] é o estabele­cimento onde êle ensina. (p. 227)

Os locais escolares

Podemos verificar que não há estrutura a disposição do “mestre”

Nada sabemos de bem preciso sôbre os locaís ocupa­dos pelas escolas primárias. Como há muito tempo en­tre nós, como aínda hoje em países muçulmanos, devia ser uma sala qualquer, que nada de especial predispunha para o uso escolar. Uma só peça teria sido suficiente: não parece estabelecido, como por vêzes se afirmou, ter sido precedida de uma sala de espera onde os peda­gogos permanecessem durante o tempo da aula: é mais provável que êles assistissem a esta, sentados à parte, como no-lo mostram já os vasos do quinto século. (p. 228)

Condições do mestre

As condições “profissionais” do mestre são também precárias em relação a sua condição social e econômica:

Aí ensina o mestre; êle é geralmente o único a assumir a responsabilidade de uma classe: na época pré-romana, não se vê aparecer freqüentemente "mes­tre-coadjuvante" [...] nem repetidores fornecidos pelos alunos grandes. Quanto ao próprio mestre, temos a surprêsa de descobrir quão pouco caso a sociedade antiga fazia desta função docente que a nossa considera, ou pretende considerar, com respeito e honra.

Quem eram esses mestres?

O ofício de mestre-escola permanece, durante tôda a Antigüidade, um ofício humilde, bastante desprezado, que serve para desacreditar aquêles como Ésquilo ou Epicuro, cujo pai foi constrangido a praticá-lo. Como o trabalho de instrutora ou de governanta na Inglaterra vitoriana, é a profissão típica para o homem de boa família que sofreu reveses da fortuna: exilados políticos, apátridas errantes "reduzidos pela miséria a ensinar", tiranos destronados, como outrora Dionísio de Sira­cusa. . .Lembremo-nos dos reis de Luciano que, nos infernos, despojados de sua fortuna, se viram forçados a tornar-se mercadores de salgados, mestres de primei­ras letras ou sarrafaçais: "Ou morreu, ou é instrutor em alguma parte", costumava dizer um cômico sôbre al­guém de quem não se tivesse notícias. (p. 229)

Por que êste desprêzo? De início, salvo o caso das cidades onde, como Mileto ou Teos, as escolas se torna­ram públicas e onde o mestre, eleito pela assembléia dos cidadãos, participa da dignidade de magistrado público, ser instrutor é um "ofício", no sentido comercial e servil da palavra: faz-se mister correr à clientela, fazê-Ia pagar-lhe, coisas estas tôdas desonrosas aos olhos dos aristocratas que seguiam sendo os gregos.. (p. 230)

E que condições econômicas viviam os “mestres”?

Ofício pago, e, o que é pior, mal pago: os documentos mais precisos a êsse respeito são as cartas epigráficas de Miletoe de Teos: a primeira fixa o salá­rio dos mestres de primeiras letras em quarenta drac­mas mensais, a segunda em quinhentas dracmas por ano, no ano normal (é proporcionalmente aumentado nos anos em que se anexa um mês intercalado: nos dois casos, êste salário é um pouco mais elevado que o de um obreiro qualificado, cujo sôldo, sabe-se, era normalmente de uma dracma por dia, mas não é bas­tante para representar uma elevação real do nível de vida.
Ainda era preciso estar seguro de ser regularmente pago. O caso de Teos e de Mileto é excepcional: aí, o salário dos mestres, assegurado pelas rendas de uma fundação, está inscrito no orçamento da cidade e é pago pelos tesoureiros municipais conformemente a um mi­nucioso estatuto. Alhures, por tôda parte, os mestres devem contar com as eventualidades da clientela parti­cular; em princípio, êles eram como os instrutores pú­blicos de Mileto e de Teos, pagos no fim de cada mês, mas os pais necessitados fazem-nos por vêzes esperar ­sem falar nos harpagões, como o de Teofrasto, que pro­cura economizar um mês dentre doze fazendo seu filho faltar à escola durante o mês de Antestérion, sob o pre­texto de que são muitos então os feriados e que os dias escolares restantes já não são tantos que mereçam a despesa. (p. 230)

Qual a qualificação necessária para ser ”mestre”? A qualificação tem influência em relação aos salários?

Mas sobretudo o ofício de instrutor não é conside­rado, porque no fundo não supõe qualificação especial. Em nenhuma parte trata-se de exigir dos mestres uma formação profissional análoga à que proporcionam nossas escolas normais atualmente: a lei escolar de Mileto, tão preciosa por sua minúcia, mostra-nos como se faziam as eleições para êsse cargo; não se exige do candidato nenhum título e os eleitores são simplesmente incumbi­dos de escolher, conscienciosamente, "os mais capazes de ocupar-se com as crianças". Não se exigia dos mestres, parece, nenhuma garantia, a não ser do ponto de vista moral, caráter, honorabilidade: tecnica­mente, quem quer que houvesse aprendido a ler era considerado capaz de por sua vez improvisar-se em mes­tre; bastava pôr em prática suas recordações de infância. (p. 230-1)

Mas nem tudo eram desgraças:

Eu, porém, não gostaria de deixar o leitor sob uma impressão forte demais: por mais mal pago que fôs­sem, os mestres de primeiras letras têm, em Mileto pelo menos, uma situação ligeiramente superior à dos seus colegas de ginástica, que recebem apenas trinta dracmas por mês. Por ser desacreditada, sua profissão, tão útil, não deixa de receber, aqui ou ali, estímulos oficiais: no terceiro século antes de Cristo, Lâmpsaco concede­-lhes a imunidade fiscal e Ptolomeu Filadelfo a isenção da gabela; enfim, certos monumentos atestam que seus antigos discípulos os cercavam por vêzes de um respeito repassado de gratidão, como o indica o epitáfio de um velho mestre de Rodes, falecido após cinqüenta e dois anos de magistério. (p. 231)

Escola e educação

A figura do mestre escola (gramatista) é como a do escriba instrutor:

O mestre de primeiras letras é encarregado de um setor especializado da instrução, provê tecnicamente a inteligência da criança, mas não é êle quem educa. O essencial da educação é a formação moral, a do caráter, do estilo de vida. O "mestre" está encarregado apenas de ensinar a ler, o que é muito menos importante. A associação, que nos parece hoje natural, da instrução primária e da formação moral é, entre nós, uma herança da Idade Média, ou melhor: da escola monástica, onde a um mesmo personagem coube promover a síntese de dois papéis bem distintos: o de instrutor e o de pai espiritual. Na Antigüidade, o mestre de pri­meiras letras é alguém muito apagado para que a família pense em confiar-lhe, como o faz tão freqüentemente hoje, a responsabilidade da educação. Se alguém, que não os pais, recebe esta missão, é decerto o pedagogo: um simples escravo, sem dúvida, mas que pelo menos pertence à casa e que, através do contato quotidiano, pelo exemplo se possível, em todo caso através dos preceitos e de uma vigilância atenta, contribui para a educação, e sobretudo para a educação moral, incomparavelmente superior às aulas puramente técnicas do "gramatista". (p. 232)


Aqui temos que analisar duas figuras distintas: o pedagogo e o “mestre-escola”.

O pedagogo é um escravo responsável pelo cuidado e pela formação moral da criança. Trata-se de uma pessoa de boa formação que por alguma circustância levou a escravidão, principalmente, ser tornado prisioneiro de guerra ou não poder saldar uma divida.

O “mestre-escola” é responsável pela educação técnica, a técnica da escrita e leitura. Esse não tem papel moral. Trata-se de um cidadão, também, passou por reveses na vida e acabau tendo que vender os seus serviços como ”mestre”.

Ambos não eram valorizados socialmente, um pela sua condição de escravo e o outro por ter que viver de trabalho pago (o que era visto com desprezo pela aristocracia).

MORROU, Henri-Irénée. A escola primária. In: ___. História da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1975. p. 224-235.

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