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quarta-feira, 17 de abril de 2013

A EDUCAÇÃO HOMÉRICA


http://scienceblogs.com.br/hypercubic/2011/08/o-misterio-da-cegueira-homerica/

Um dos valores da obra homérica está no esclarecimento dos princípios que esta obra “guarda”, que serão importantíssimos para a posteridade. As obras homéricas são Ilíada e Odisséia.

Há em Homero a figura do educador: “A figura típica de educador é a de Quirão, ‘o sapientíssimo centauro’; grande número de lendas parece ter-se apossado de seu nome: ele educou não só Aquiles, mas ainda muitos outros heróis” [...] (p. 23).

É-nos possível verificar como Homero concebe como se deve dar a educação:

Faz-lhes propor, por seus conselheiros, grandes exemplos tirados à gesta legendária, exemplos que devem despertar neles o instinto agonístico, o desejo de rivalizar. Assim Fênix propõe a Aquiles, ao pregar-lhe a conciliação, o exemplo de Meleagro: "É exatamente isto o que nos ensinam os feitos dos antigos heróis... Recordo-me ainda desta gesta [...], uma história bem antiga..." (p. 31)

Também podemos verificar como esses educadores procedem a sua prática educativa:

Para ser ouvido, Fênix julga que deve recordar a Aquiles toda a sua história, num longo discurso cuja prolixidade um tanto senil é bastante instrutiva para nós: Fênix, fugindo à cólera de seu pai (estavam em conflito por causa de uma bela cativa), veio refugiar-se na corte de Peleu, que lhe outorgou um feudo nos Dólcpes. É a este vassalo querido que o rei vai confiar a educação de seu filho [...]: é-lhe entregue bem criança; vemos Fênix tomar Aquiles sobre os joelhos, cortar-lhe carne, fazê-Io comer, beber: ‘E quantas vezes me molhaste, de vinho, a túnica, no penoso tempo da infância!’ (p. 24).

O trecho anterior nos faz notar que os educadores narrados por Homero começavam a educar seus pupilos desde a mais tenra idade. Também podemos verificar que esse processo se estende até a vida adulta:

‘Fui eu quem fez de ti o que tu és!’, declara com orgulho o velho preceptor, pois que sua assistência não se restringira à primeira infância: ainda a ele é confiado Aquiles por ocasião de sua partida para a guerra de Tróia, a fim de que venha em socorro de sua inexperiência. (p. 24)

Num segundo trecho

Nada mais notável que a dupla missão de que Peleu o investira nessa ocasião: ‘Não passavas de uma criança e nada sabias ainda da guerra, que a ninguém poupa, nem das assembléias onde os homens se fazem ilustres. E foi para isso que ele me havia enviado: para ensinar-te a ser, ao mesmo tempo, um bom conselheiro, um bom realizador de façanhas [...]’; fórmula em que se condensa o duplo ideal do perfeito cavalheiro: orador e guerreiro, capaz de prestar a seu suzerano tanto serviço judiciário como serviço de campanha. A Odisséia mostra-nos, da mesma maneira, Atena instruindo Telêmaco sob a inspiração dos exemplos de Mentes ou de Mentor. (p. 24)

            A partir desses relatos podemos identificar o educador, em Homero, como sendo um preceptor, isto é, uma pessoa experiente ensinando um jovem nobre a ser “nobre”, e para eles ser nobre é assumir os valores heróicos:

Encontramos assim, na origem da civilização grega, um tipo de educação nitidamente definido: aquele que o jovem nobre recebia dos conselhos e dos exemplos de um mais velho a quem tinha sido confiado, em vista de sua formação. (p. 24-25)
           
Esse herói tem seus princípios e ações regidas por uma ética cavalheiresca. Essa sociedade cavalheiresca é, antes de tudo, uma sociedade guerreira, portanto a educação tem que se preocupar com a ética e, também, com a técnica. Técnica esta envolve o manejo das armas, esportes e jogos, artes musicais e oratória. O mestre, portanto, tem que atender essas exigências.

Os feitos históricos tinham um papel importantíssimo como podemos verificar:

Da mesma maneira Atena, querendo despertar afinal a vocação heróica nesse meninão irresoluto que é Telêmaco, opõe-lhe o exemplo de decisão viril de Oréstes: ‘Deixa os brinquedos de criança, que não são mais para a tua idade. Vê o renome que entre os humanos conquistou o divino Orestes, quando matou o assassino de seu pai, esse astucioso Egisto!’ O mesmo exemplo aparece ainda três vezes. (p. 32)

Assim Marrou define o segredo da educação homérica: “o exemplo heróico.” (p. 32)
           
Esses princípios nortearam a Grécia não apenas no período arcaico, como também, teve forte influência no período clássico. “O poeta, dirá Platão, ‘cobre de glória miríades de feitos dos antigos e assim faz a educação da posteridade’” [...] (p. 31).

MORROU, Henri-Irénée. A educação homérica. In: ___. História da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1975. p. 17-32.

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