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domingo, 18 de agosto de 2013

A EDUCAÇÃO NA GRÉCIA


http://classicalstudiorum.blogspot.com.br/2012/03/o-que-e-educacao-classica.html

O autor começa tratando do que ele chama de “as duas tradições arcaicas”, isto é, a educação homérica e a educação hisiódica. Para Manacorda o período retratado por Homero e o período posterior correspondem a uma só época, o Período Arcaico; diferenciando-se de Marrou que os distingue como Período Homérico e Período Arcaico.

Segundo o texto há semelhanças entre a educação arcaica e a egípcia. A educação em Homero é realizada por um nobre que por alguma circunstância da vida foi levado a refugiar-se em terras que não as suas e que foi “convidado” por algum nobre do local a realizar a educação do filho deste nobre. Assim ele apresenta o educador homérico: “Estes educadores arcaicos têm em comum algo de estranho: são pessoas que mataram ou tentaram matar e, por isso, tiveram que fugir de suas terras e procurar hospitalidade em outro lugar.” (p. 42) Em outro trecho o autor comenta esse fato: “De modo paradoxal, exatamente esses feitos pouco promissores lhes abre caminho para a missão de educador.” (p. 43-4)

A educação hesiódica segue caminhos parecidos, o educador em questão é um nobre que educa seu pupilo. Manacorda não faz nenhuma referência a prática da pederastia.

Em relação ao Período Clássico o autor faz referência aos professores de ginástica, música e “alfabetizadores”; também aos pedagogos e magistrados responsáveis pela educação naquelas cidades-Estado que, posteriormente, irão assumir a educação como tarefa pública, sem apresentar nenhuma novidade em relação ao que Marrou apresenta.

A partir do século VI a.C. surge a “escola das letras” onde se ensina a ler e escrever.
   
Os docentes: grammatistés, grammaticós, rhétor

Neste texto pode-se verificar com maior nitidez as diferenças entre o “mestre-escola” e o pedagogo:

Lydo já se queixara porque o menino, em vez de chamá-lo peda­gogo, o chamou pelo nome, como se fosse um escravo comum. De fato, escravos estrangeiros, prisioneiros de guerra, eram sempre os pedagogos em casa, como testemunham seus nomes (Lydo, Davo, Siro, Trácio etc.); já os mestres de escola são gregos ou pessoas livres, que exercem um ofício como outros. Se, no entanto, confrontarmos esta comparação entre a velha educação e a nova com a de Aristófanes, de dois séculos antes, poderemos usufruir das eternas saudades dos conservadores e também constatar o quanto mudou a escola. Aristófanes nem falava das letras e Menandro coloca em primeiro plano, ao lado da educação ginástica, a importância até de uma única sílaba. Aqui parece que toda educação física se realiza fora de casa, no ginásio, enquanto a educação literária, pelo menos a inicial, é desenvolvida particularmente, com o pedagogo em casa. O menino freqüentará a escola externa num segundo momento, e será a escola do grammatikós. (p. 61)

Como pode ser verificado no trecho anterior o “mestre–escola” é o responsável pela alfabetização, este divide espaço com educadores responsáveis pela ginástica e música. A novidade trazida por este autor que há níveis distinto em que o “mestre-escola”: “Desta cena dos Báquides de Menandro-Plauto resulta que a posição social do mestre certamente não era de grande prestígio, embora seja necessária uma distinção entre os diversos graus: o grammatistés, o grammatikós, o rhétor.” (p. 61)

Mas mesmo havendo níveis diferentes ainda o mestre tem pouco prestigio:

Em geral, o ofício de mestre era o ofício de quem caíra em desgraça (como no exemplo de Dionísio de Siracusa) e nisto parece perpetuar-se o destino de Fênix e Pátroclo. Mais exatamente: entre as téchnai, os ofícios ou profissões "artesanais", esta téchne intelectual em geral não era exercida por homens do démos, em cujas famílias o ofício passava de pai para filho, mas por homens de classes cultas que por desgraça tiveram que descer na escala social. O caso real de Dionísio de Siracusa, além do risco corrido por Platão, feito escravo quando voltava da Sicília, confirmam isso. Mas não faltam outros exemplos. (p. 61)

Ter sido um “mestre-escola” parece ser uma marca a ser carregada pela vida inteira:

Demóstenes (De Corona, 129 a 258) censurará repetida e maligna­mente a seu rival Ésquines aquilo que o próprio Ésquines testemunha com amarga veemência (Contra Ctesifonte), isto é, que o pai, em decorrência dos graves acontecimentos da Guerra do Peloponeso, foi obrigado a servir como mestre na casa de Élpia, tendo o filho como seu assistente. Do fragmento de uma comédia comprova-se também qual o destino dos prisioneiros de guerra, inclusive de gregos entre gregos (trata-se de prisioneiros atenienses): "Ou morreu ou ensina o bê-á-bá. Daqueles que combateram com Nícia, na Sicília, alguns morreram, outros foram feitos prisioneiros e ensinaram as letras aos filhos dos siracusanos" (Zenobius, IV, 17) (p. 61-2)

Ser assalariado era algo horrível para aquela sociedade, tanto que quando alguém ensinava gratuitamente um familiar seu era algo visto com naturalidade, agora quando se ensinava por dinheiro era vergonhoso.

O presente texto reafirma a condição precária do “mestre-escola”.

MANACORDA, Macio Alighiero. A educação na Grécia. In: ______. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1996. p. 41-72.

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