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quinta-feira, 18 de abril de 2013

A EDUCAÇÃO ESPARTANA


http://www.brasilescola.com/historiag/a-educacao-espartana.htm

A cultura arcaica de Esparta

A Esparta arcaica é diferente da Esparta do período clássico. Trata-se de uma cidade onde as artes têm um espaço privilegiado, sendo o principal centro cultural da Grécia. Esparta é nessa época, proporcionalmente falando, o que Atenas virá a ser séculos depois.

O princípio homérico do herói cavalheiresco está presente fortemente, mas isto está para mudar.

Militar e cívica

Esparta vai se tornando cada vez mais militar:

Importa, contudo, salientar a evolução, técnica e ética ao mesmo tempo, que se registrara desde a idade média homérica: a educação do cidadão espartano não é mais a de um cavalheiro, mas a de um soldado; insere-se numa atmosfera "política", e não mais senhorial. (p. 35)

Essa mudança tem suas conseqüências:

Na base dessa transformação ocorre uma revolução de ordem técnica: a decisão, no combate, não depende mais de uma série de encontros singulares de cavaleiros apeados de seus carros, mas do choque de duas linhas de infantes em ordem cerrada; a infantaria pesada dos hoplitas é doravante a rainha das batalhas (haverá em Esparta um corpo privilegiado de cavaleiros, mas êstes [...] parecem ter sido uma Polícia secreta de Estado). (p.35)

O ideal do cavalheiro dá lugar ao do soldado:


Vê-se com que energia o nôvo ideal subordina a pessoa humana à coletividade política: a educação es­partana, segundo a feliz fórmula de W. Jaeger, não terá mais por fim selecionar heróis, mas formar uma cidade inteira de heróis - soldados prontos a se devotarem à pátria. (p. 36)

Devoção essa que pode ser visto nas palavras de Tirteu citadas por Morrou: [...] “é belo morrer, abatido na linha de frente, como um bravo que combate pela pátria.”

Esportiva

Tem importância significativa na medida em que através dos esportes os futuros soldados “ensaiam” para as batalhas que virão a enfrentar. Também tem importância por ajudar a manter em forma os soldados nos períodos de paz.

E musical

Ajuda a transmitir e “inculcar” os valores guerreiros.

Educação de estado

Toda essa estrutura de guerra necessita de um processo educativo para ser constituído e o Estado espartano é quem promove esta educação.

Sob sua forma clássica, a educação espartana, [...] conserva o mesmo fim claramente definido: o "adestramento" do hoplita (é a infantaria pesada que havia feito a superioridade militar de Esparta: esta só será vencida depois das ino­vações táticas de Ificrates de Atenas e dos grandes chefes tebanos do quarto século, que superarão seu instrumento de combate). Organizada inteiramente em função das necessidades do Estado, está inteiramente nas mãos dêste. [...] Ser educado segundo as normas, é uma condição necessária, senão suficiente, para o exercício dos direitos cívicos. (p. 41)

A criança permanecia com os pais apenas nos primeiros anos.

Até os sete anos, o Estado consente em delegar seus poderes à família: nas idéias gregas, a educação ainda não começou; até os sete anos, trata-se apenas de "criação" [...]; as mulheres de Esparta eram, nisso, tradicionalmente versadas: as amas lacônias eram bastante procuradas e particularmente apreciadas em Atenas. (p. 41-2)


O trecho a seguir nos dá uma idéia da trajetória que todo indivíduo era levado a fazer:

Ao atingir sete anos, o jovem espartano é requisi­tado pelo Estado: até à morte, pertence-lhe inteira­mente. A educação propriamente dita vai dos sete aos vinte anos; ela é disposta sob a autoridade direta de um magistrado especial, verdadeiro comissário da Educação nacional [...]. A criança é integrada em for­mações juvenis, cujas categorias hierarquizadas apre­sentam alguma analogia com as de nosso escotismo e, mais ainda, com as dos movimentos juvenis dos Estados totalitários de tipo fascista, como a Gioventu fascista ou a Hitlerjugend. A nomenclatura, complicada e pitoresca, que servia para designar a série das classes anuais, inte­ressou os eruditos antigos e, depois dêles, os modernos. (p. 42)

Como podemos verificar na passagem anterior o educador exerce uma função de Estado. Esse educador deve “adestrar” os futuros soldados.

Moral totalitária

O edu­cador espartano procura desenvolver no jovem a resis­tência à dor: impõe-lhe, sobretudo a partir dos doze anos, um regime de vida áspero, no qual a nota de rudeza e de barbárie vai-se acentuando continuamente. (p. 46)

Faz parte desse adestramento um discurso moral que tem por finalidade tornar esses “bárbaros” obedientes ao comando das autoridades, autoridades essas que personificam a pátria.

A educação das moças

Nessa sociedade machista há alguns espaços para a educação das mulheres:

[...] recebiam elas uma formação estritamente regulamentada, na qual a música, a dança e o canto desempenham um papel mais apagado que a ginástica e o esporte. A graça arcaica cede o passo a uma concepção utilitária e crua: como a mulher fascista, a mulher espartana tem o dever de ser antes de tudo uma mãe fecunda em filhos vigo­rosos. Sua educação é subordinada a, esta preocupação de eugenia: procura-se "tirar-lhe a delicadeza e a femi­nilidade", enrijecendo-Ihe o corpo, obrigando-a a exibir-se nua nas festas e nas cerimônias: o objetivo é fazer das virgens espartanas robustas viragos sem complicações sentimentais, que se acasalarão ao melhor dos interêsses da raça... (p. 46)


O presente texto nos apresentou algumas pistas e, também, nos deixou algumas perguntas. Sabemos que o educador é um agente do Estado, numa definição moderna: funcionário público. As questões são: qual era a trajetória para se chegar a condição de educador? Por ser este um funcionário do Estado podemos saber que este é sustentado por este Estado, mas sob que condições? Sobre as condições materiais desse educador também não temos informações.

MORROU, Henri-Irénée. A educação espartana. In: ___. História da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1975. p. 33-50.

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