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domingo, 16 de junho de 2013

ROMA ADOTA A EDUCAÇÃO GREGA


“Havia, pois, em Roma uma tradição pedagógica original; entretanto a educação latina evoluíu num sentido muito diferente, porque Roma se viu levada a adotar as formas e os métodos da educação helenística.” (p. 375) Então, Roma adota a educação grega, inicialmente a educação em Roma de dava em casa:

Assim a aristocracia romana adotou, para seus filhos, a educação grega: achava ela, a domicílio, pessoal docente entre os numerosos escravos que a conquista lhe proporcionava; o mais antigo exemplo disso é fornecido por Lívio Andrônico, um grego de Tarento, levado a Roma como escravo, após a tomada de sua cidade (272); foi ele alforriado depois por seu senhor, cujos filhos educara: sabe-se como a sociedade romana foi pródiga na alforria, que por um reflexo humanitário remia a barbárie desse recrutamento forçado. (p. 381)

Gregos cultos acabavam sendo escravizados e encaminhados para funções de preceptor e de professor:

Muito cedo, ao lado desta preceptoria particular, no seio das grandes famílias, apareceu um ensino público do grego, ministrado em verdadeiras escolas: Andrônico já ensina, simultâneamente domi forisque, como preceptor e como mestre-escola. Ao lado de alforriados estabelecidos por conta própria, havia escravos cujos proprietários lhes exploravam os talentos pedagógicos: um escravo capaz de ensinar era uma boa renda (Catão bem o sabia) e sobressaía no mercado. Nem todos os professôres de grego eram de origem servil: Ênio, por exemplo, nascido num município aliado de Messápia. A existência de uma clientela ansiosa por aprender logo atraiu à capital inúmeros gregos em busca de fortuna: por volta de 167, PoIíbio assinala a presença, em Roma de grande número de mestres qualificados. (p. 381-382)

Como podemos verificar na citação anterior, a capital Roma atrai também homens livres, provenientes da Grécia, que esperam conquistar fortuna.

Em Roma, ao contrario do que ocorria na Grécia, as mulheres da aristocracia tinham, por vezes, acesso ao ensino:

Não nos admiremos do papel assim desempenhado por uma mãe romana; também as mulheres tinham acesso à cultura grega; a mesma Comélia tinha um verdadeiro salão literário, aberto a tudo o que a Grécia possuía de espíritos de escol e seu caso não foi o único: parece normal a Salústio julgar Semprônia, a mãe de Bruto, o assassino de César, "igualmente versada nas letras gregas e latinas". (p. 382)

Porém, nem todos os elementos da cultura helênica, um exemplo é o modo de encara o nú na educação física: “Diante da ginástica grega, os romanos realmente reagiram corno "Bárbaros": seu pudor chocava-se com o nu e eles viam na pederastia (de que o ginásio era o meio natural) uma vergonha, e não um título de glória para a civilização grega.” (p. 385)

Com o passar do tempo começam a surgir escolas latinas:

A influência grega na educação romana revela-se muito mais extensa ainda: apresenta-se sob dupla forma; ao mesmo tempo que a aristocracia romana educa seus filhos à grega, faz dêles gregos cultos, ela duplica esta educação estrangeira com um ciclo paralelo de estudos, exatamente calcado no das escolas gregas, embora transposto em língua latina. Face às escolas em que se ensinavam disciplinas gregas, abria-se um série paralela de escolas latinas: primárias, secundárias e superiores. A aparição deste novo ensino efetuou-se, para cada um dos três graus, numa época. e num contexto histórico diferentes. A escola primária aparece desde o século VII-VI, o ensino secundário no III, o superior somente no I. (p. 386-387)

Surge a escola primária:

As origens da escola primária remontam a época muito antiga: Plutarco, sem dúvida, assegura que o primeiro a abrir urna escola paga foi um certo magister de nome Cp. Carvílio, um alforriado do cônsul de 234; mas se a informação é válida, ela concerne apenas ao caráter mercantil e público da instituição. Os pitorescos textos de Tito Lívio que pretendem referir escolas primárias do tipo clássico em Roma em 445 (449), entre os faliscos pouco depois de 400, não podem, é claro, ser levados em consideração, mas, sem dúvida, o ensino elementar das letras deve ter aparecido em Roma muito antes do IV século. (p. 387)

E a escola secundária:

Muito cedo, pelo menos, parece, por volta do tempo dos Gracos, este ensino tornou-se autônomo e foi ministrado por grammatici Latini, equiparados aos gramáticos encarregados do grego. Mas continuou por muito tempo prejudicado pela falta de prestigio e pelo pouco valor cultural dos textos explicados: o velho Andrônico continuava no programa,  Ênio disputava-lhe o primeiro lugar, mas era isto uma fraca concorrência a Homero! Pode-se conjeturar que, desde o século II, os cômicos latinos foram adotados pelas escolas: podia-se desdenhar este refôrço? E como não acolher os imitadores e êmulos de Menandro, que, aliás, estava inscrito no programa dos gramáticos gregos? (p. 389)

O surgimento de um Ensino Superior latino não é bem visto pelos grupos que tem a hegemonia, com medo de que este ensino pudesse vir a contribuir para mudanças que tirassem os seus privilégios:

Há mais: o ensino tradicional da retórica, precisamente porque era ministrado em língua grega, que supunha estudos mais longos e mais difíceis, era de natureza tal que satisfazia aos conservadores: interditar o ensino dos retóricos latinos era para eles um meio de reservar aos filhos das famílias ricas e nobres o benefício desta arte prestigiosa da palavra, tão útil nas lutas do forum que a escola marianista de L. Plócio Galo oferecia com abatimento aos jovens ambiciosos egressos do povo (p. 391)

A exceção é a medicina:

Somente o ensino da medicina acaba sendo naturalizado em Roma; mas é notável que isto tenha ocorrido em data tardia. Sob a República e durante todo o Alto Império, o ensino profissional da medicina é ministrado ainda em grego. Os tratados latinos de medicina, como os de Varrão e de Celso, apenas reconstróem este enciclopedismo prático para o uso do paterfamilias [...]. Existe um ensino oficial da medicina confiada aos médicos chefes do serviço de saúde pública, archiatri (o nome e a coisa vinham do oriente), mas era ministrado em grego. (p. 393-394)

MARROU, Henri-Irinée. Roma adota a educação grega. In:___. História da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1975. p. 375-394.

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