http://bloglanostraitalia.blogspot.com.br/2010/11/curiosidades-da-antiga-roma.html
Como já vimos a
educação romana imita quase na totalidade a educação grega, o que nesse
capítulo Marrou reafirma: “Os três capítulos que se seguem são, em certo
sentido, quase inúteis: as escolas romanas, quer se trate do seu quadro, do seu
programa, dos seus métodos, limitam-se a imitar as escolas helenísticas” [...]
(p. 411) O mesmo se dá em relação a estrutura educacional:
Em Roma, pois, como em país de lingua
graga, há três graus sucessivos de ensino, aos quais correspondem, normalmente,
três tipos de escolas confiada a três mestres especializados: aos sete anos, a
criança entra na escola primária, donde saí por volta dos onze ou doze para a
do grammaticus; na idade em que recebe a toga viril, aos quinze anos às
vezês, passa para o retórico: os estudos superiores duram até por volta dos
vinte ano, embora possam estender-se além. (p. 412)
O professor responsável pela alfabetização também é nos mesmos moldes
Para designar o mestre primário, os
latinos empregam algumas vezês a palavra, criada sobre o
modelo [...] grego [...], “o que ensina as letras”, mas preferem dizer primus
magister e, as mais das vezês, 'mestre-escola', magister ludi, magister
ludi litterarii: preferência significativa; em Roma, como na Grécia, o
ensino coletivo no seio de uma escola é a regra geral. (p. 412)
O pedagogo grego encontra em Roma o seu correspondente: [...] “a educação
doméstica confiada a um mestre particular, normalmente um escravo ou um
alforriado da casa, não esteja alí representada; ela o está até melhor que em
terra grega” (p. 412)
Como podemos ver na citação abaixo há em algumas circunstâncias educação
escola inclusive para alguns escravos:
Compreende-se sem
dificuldade que, entre as características, os milhares de escravos que os
romanos ricos do império possíam, se encontrava necessariamente em considerável
número de crianças: eram reunidos, para sua educação, numa escola doméstica ou paedagogium:
conhecemos bem a dos jovens escravos do imperador, entregue a direção de um
“pedagogo dos (jovens) servidores de César”, assistido por subpedagogos. (p.
413)
O
pedagogo, a moda grega, também tem lugar nessa educação: “Os romanos também
haviam adotado o costume grego do escravo acompanhante” [...]. (p. 414) Este,
também, pode vir a exercer a função de repetidor:
Quando bem escolhido,
pode ele ascender ao papel de repetidor, e até ao de verdadeiro mentor, arcando
com a formação moral da criança: conservamos, por exemplo, o comovente epitáfio
que um aluno reconhecido consagrou aquele que fora “seu pedagogo e seu
educador”, [...] (e aliás seu tutor também: trata-se de um homem livre,
sacristão do templo de Diana, e não, como de ordinário, de um escravo ou de um
alforriado da família. (p. 414)
As tarefas do mestre escola também correspondem ao que
ocorria na Grécia:
O pedagogo conduzia
seu pequeno senhor à escola, chamada ()por antifrase, acreditava-se) ludus
litterarius: conhecemos o seu aspécto material um pouco melhor que a da
escola grega. Não que fôsse mais importante: o magister latino
contenta-se, para estabelecer-se, com um alpendre (pergula); preferem-se
sobretudo os que se abrem nos pórticos do foro: constatamo-lo em Roma como em
Pompéia ou em Cartago. A aula ministra-se quase ao ar livre, sumariamente
isolada dos barulhos e das curiosidades da rua por meio de um tambique (velum);
as crianças, sentadas em escabelos sem emcôsto (não tem necessidade de mesas,
escrevem sôbre joelhos), são agrupadas em torno do mestre, que pontifica de sua
cadeira (cathedra) posta sobre um estrado, e assistido às vezes por um
ajudante (hypodidascalos) (p. 414)
Como
já vimos os educadores tem as mesmas origens (escravos ou ex-escravos) e são
igualmente valorizados como os educadores gregos, ou melhor dizendo, tem a
mesma desvalorização:
Não nos deixemos
impressionar por esta encenação; o mestre de primeiras letras continua sendo,
em Roma como na Grécia, um joão-ninguém; sua profissão é a última das
profissões, rem indignissimuam, fatigante e penosa, mal paga: em 301
d.C., O Estado de Dioclesiano fixa o salário do magister no mesmo nível
do pedagogo, ou seja, 50 denários por aluno e por mês: no tempo em que um
alqueire de frumento custava 100 nários, seria preciso reunir uma classe de
trinta alunos para receber um salário equivalente ao de um operário
qualificado, um pedreiro ou um carpinteiro, por exemplo, e não é certo,
malgrado os avanços da pedagogia antiga, que muitas classes hajam atingido esta
cifra. Assim, não pode surpreender que um mestre de primeiras letras de
Campânia procure trabalho supletório na redação de testamentos.
Todo salário era
considerado degradante pela aristogratica sociedade antiga, tanto pela latina
como pela grega; a profissão de instrutor (a palavra já está em uso desde o
tempo de Dioclesiano, cujo Edito, já citado, fala do magister institutor
litterarum) nenhum prestigio confere
ao que a exerce; é bom para escravos, alforriados ou gentalha: obscura initia,
diz Tácito de um novorico que começou por aí. Acrescentemos por enfim que o
mestre escolar é muitas vêses suspeito do ponto de vista moral: gaba-se um, no
elogio do seu epitáfio, de haver sido, rara exceção “de perfeita correção com
respeito a seus alunos”, summa castitate in discipulos suos. (p.
414-415)
Há
indícios de que haviam “professores” de calculo, a existência deste se daria
porque “a técnica aprofundada do cálculo escapa à competência do magister
ludi, é ensinada por um especialista, o calculador” [...]. Não há maiores
informações sobre este.
MARROU, Henri-Irinée. As escolas romanas: ensino
primário. In: ___. História da Educação na antiguidade. São Paulo: EPU,
1975. p. 411-422.
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